quinta-feira, 9 de julho de 2009

Cinemascópio: Ciclo Reposições ao Ar-Livre- Próxima 6ªf, 10 Julho: As Vidas dos Outros, de Florian Henckel Von Donnersmarck


Ciclo Reposições ao Ar-Livre

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 10 Julho.2009 - 21H45


A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural
Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)

ENTRADA LIVRE

AS VIDAS DOS OUTROS
Das Leben Der Anderen

Realizador: Florian Henckel Von Donnersmarck

Com: Martina Gedeck, Ulrich Mühe, Sebastian Koch

Duração: 137 minutos

Idade:
M/12

Género: Drama

País de Origem: Alemanha

Ano: 2006


Sinopse:

Ao mesmo tempo um thriller político e um drama humano, AS VIDAS DOS OUTROS começa na Alemanha de Leste, em 1984, cinco anos antes da Glasnost e da queda do Muro de Berlim e leva-nos até 1991, à que é hoje a Alemanha reunificada. AS VIDAS DOS OUTROS, acompanha a gradual desilusão do Capitão Gerd Wiesler, um oficial altamente credenciado da Stasi, a toda-poderosa polícia política do regime. A sua missão é espiar um celebrado escritor, George Dreyman, e a sua esposa, a actriz Christa-Maria Sieland. Antes da sua queda, o governo da antiga Alemanha de Leste, conhecida como Alemanha Democrática, assegura o poder através de um sistema impiedoso de controle e vigilância, através da Stasi, uma vasta cadeia de informadores, que chegaram a ser 200.000, numa população de 17 milhões. O seu objectivo era saber tudo sobre AS VIDAS DOS OUTROS. Um filme escrito e realizado por Florian Henckel von Donnersmarck. Com Martina Gedek ("A Bela Marta"), Ulrich Muhe ("Funny Games"), Sebastian Koch ("Amen") e Ulrich Tukur ("Solaris"). [ www.7arte.net ]



As Vidas dos Outros
As Vidas dos Outros: Do outro lado da nostalgia

Depois da projecção internacional do filme de arte, devida a nomes como Rainer Werner Fassbinder, Wim Wenders ou Werner Herzog, o cinema alemão sobrevive, hoje, graças ao prestígio ocasional de filmes sobre a sua História recente, de que avultam as "biografias" dos últimos dias de Hitler ou dos seus oponentes, Hans e Sophie Scholl, resistentes à barbárie nazi. Com efeito, tal intervenção sobre o tecido histórico permite a construção de produtos de qualidade industrial média, capaz de reinventar a fórmula do "docudrama", que se liga, aliás, com a obra "menor" de outro dos grandes nomes do cinema alemão das décadas de 60 e 70, Volker Schlöndorff, cujo "A Honra Perdida de Katharina Blum" (1975), adaptado do nobelizado Heinrich Böll, funciona ainda como matriz incontornável.
"As Vidas dos Outros" encaixa neste paradigma de uma ficção presa a uma reconstituição cuidada e quase teatral de momentos marcantes na evolução de uma Alemanha estigmatizada pelas cicatrizes da Guerra e pela divisão em dois Estados. O argumento assenta, basicamente, na resistência intelectual da chamada República Democrática Alemã à anulação do indivíduo pela máquina repressiva da ditadura comunista, representada pela polícia política, a Stasi.
A este nível, "As Vidas dos Outros" começa por situar-se numa reacção a uma espécie de nostalgia representativa que encontrava na excelente tragicomédia "Adeus Lenine" (Wolfgang Becker, 2003) o seu ponto culminante de fricção: ao contrário deste último, "A Vida dos Outros" não embeleza o folclore risível da diferença; antes, enfatiza um clima de suspeição permanente, um labirinto de denúncias em cadeia, um sistema de chantagem emocional que faz de uma nação um bando de colaboracionistas do regime, perpetuando o medo. Por isso, o filme se socorre da estrutura do "thriller" político para aceder à essência de um mundo ao contrário, em que as escutas telefónicas e as restrições da privacidade parecem constituir a regra, justificando a burocracia de estado pela sua sobrevivência, como se perseguir o direito à diferença constituísse um teatro específico da anulação da individualidade.
Fundamental se torna, assim, o facto de a acção decorrer no mundo exposto do teatro, com uma marcação cerrada dos actores que extravasa do espaço restrito do palco para um outro palco: o tratamento do espaço fechado do apartamento pauta-se por esta noção claustrofóbica de um universo em curto-circuito, em que a polícia política encena o drama em gente e se encena. "As Vidas dos Outros" actua sobre o "real" e constrói um anti-comunismo "justificado" na medida em que fala do que conhece: a repressão não é uma repressão em abstracto, mas um dado real. O agente da Stasi, Gerd Wiesler (prodigiosa interpretação em minimal "underacting" de Ulrich Mühe), embora dempenhado no mecanismo da repressão, acaba por revoltar-se e sabotar o sistema. O que faz deste filme um objecto tão interessante passa, pois, pela rejeição de um demagógico discurso que se cifrasse em esquemático confronto entre Bem e Mal, substituindo-lhe gradações da compreensão do momento histórico em que se torna essencial alterar o dilema moral: dentro do sistema repressivo aparecem germens de discórdia que o fazem implodir, sabotando a facilidade de uma leitura maniqueísta. Não há qualquer fascínio pelo passado, apenas uma crua memória de uma encenação do medo, como se isso bastasse para tornar dialéctica uma relação entre actores e personagens.

Por: Mário Jorge Torres (PÚBLICO)
http://cinecartaz.publico.clix.pt/filme.asp?id=163059


Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura

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