terça-feira, 27 de novembro de 2007

Definições possíveis


"A Arquitectura é o modo como o Homem encerra os espaços."





Casa Francisco Ramos Pinto, Álvaro Siza


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Pelo Ar

Tenho bem presente a sensação de por o pé fora de portas após horas em frente à TV, quando era miúdo.
Era no horizonte cortado pelos telhados que os meus olhos se prendiam. Se as minhas pernas me obedecessem, seria por ali que elas correriam em voos de acrobata a experimentar a liberdade dos pássaros.


A história de O Tigre E O Dragão tem uma dimensão onírica. Os personagens a procuram-se pelos telhados, pelas copas, pela água. Lutam em bailados impossíveis. E os sentimentos ultrapassam a sua mera condição de mortais

Acredito que muitas vezes nos dê vontade de caminhar assim, pelo ar... com o silêncio das coisas lá em baixo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Actores

Não percebo nada do assunto, mas sempre me achei capaz de distinguir um bom de um mau actor. No fundo toda a gente o acha, e o universo de actores fica assim dividido em duas partes: os actores que gostamos e aqueles que não gostamos. Esquecemos por completo o meio termo, porque para aqui nem vem ao caso.



De uma maneira (muito) geral gosto de dividir os actores em dois grupos: os carismáticos e os de composição.
Os primeiros são aqueles que se impoem sobretudo pela sua presença. Trazem algo de difícil definição e é impossivel ficar-lhes indiferente quando surgem na tela. Lembro-me de John Wayne, Marlon Brando, Jack Nicholson, Robert De Niro, Samuel L. Jackson. Pela voz, pelo olhar, por qualquer outra coisa.
Os de composição são os camaleões. São os que se transformam em trejeitos, sotaques e atitudes. Pressupõe-se uma capacidade mimética inata que lhes condicionou a carreira desde cedo. Lembro-me Anthony Hopkins, Tom Hanks, Kevin Spacey, Philip Seymmour Hoffman.

Aos grandes nomes associamos quase sempre o primeiro grupo. Os actores-carisma (chamemos-lhe assim) representam-se a si próprios. Fazem-no muitas vezes ao ponto da caricatura como é o caso de Al Pacino (na foto acima). Os seus tiques quando se irrita, aquela pausa antes do berro desmedido. E o olhar meio esgazeado supostamente carregado de uma tensão interior incontrolavel.

No segundo grupo representam de facto alguém. Dá a sensação que há um trabalho "exterior" fora do próprio ego.
Bem sei que isto é divagar muito (e de que maneira), porque tanto vemos De Niro a engordar 20 kilos para interpretar Jake La Mota, como cansa ver sempre os mesmos esgares, poses e ritmos de Anthony Hopkins, faça ele de Nixon ou de Picasso.


Gosto de actores seguros e competentes. "Keep it simple! Keep it simple!" insistia Scorsese na sua voz de matraqueada quando via algum actor com intenções de acrescentar algo próprio à cena.
Gosto da capacidade de convencerem em registos diferentes. E isto sim é uma qualidade rara. Penso que os verdadeiros actores estão quase sempre bem, seja lá o filme que fizerem. Justamente por essa segurança, pela interpretação contida e do algo indefinivel que trazem. Seja lá o que isso for.
Kevin Spacey, Edward Norton (um dos mais brilhantes da sua geração), Jeff Bridges, Chris Cooper e Ed Harris (na foto acima) são exemplos daquilo que considero bons actores.

Vestígios


Novembro a desaparecer em frios vapores cinzentos

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Álcool

Filme que me marcou pela sua incómoda proximidade foi Leaving Las Vegas. "I came here to drink myself to death" dizia Nicolas Cage. O suicídio pelo álcool. O beber como se não houvesse amanhã.



É uma espiral que nos acompanha os dias. O refúgio na bebida como fuga, como lugar de conforto.
Pegamos no copo e damos o gole. Libertação: o cérebro a expandir-se em leves sorrisos. E queremos mais. Mergulhamos na euforia, na clareza momentânea das ideias. Cedemos a uma preguiça sensual do corpo. O mundo fica mais próximo.
Não estamos mais sozinhos.

E sabe tão bem. Porquê parar?
Perdemo-nos no fundo da noite. Abandonamos o corpo pela escuridão.

Muitos de nós estivemos lá perto. Ao ver o filme, estremeço ao saber o quanto.

Confissão

Palavras/expressões que odeio: XPTO

Escrevê-la já me custa. Ouvi-la é um arrepio lento nas entranhas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Riso

É o melhor remédio.

A gagalhada surge espontânea. De repente o mundo altera-se num espanto. E a boca aberta e sonora liberta-nos de nós. Somos todos corpo naquele instante em alegres convulsões que nos sacodem a alma.

Ou então é um sorriso cumplice, inteligente. A ironia bem construida, quase poética, que pelo seu modo distorcido mostra a natureza crua das coisas. Dá-lhe beleza, dá-lhe entendimento.

Há o riso trocista e pândego. Uma sacudidela contida de ombros. O ar que sai pelo nariz a custo enquanto nós por dentro nos consolamos nesse jogo de diversão e de crueldade. Riso de prazer clandestino, nervoso e imparavel.



E os sorrisos amarelos. Os descaradamente amarelos. Ou os sorrisos tristes, conformados, sem cor. São sorrisos de ocasião.

E aqueles sorrisos lindos da cor dos olhos que por instantes pousam em nós...

Rir é o remédio. Rirmo-nos de nós, de tudo. E quando nos rimos dos outros sentimo-nos superiores. Ao rirmo-nos de nós talvez sejamos superiores. Porque há algo que se liberta e se ultrapassa: olhamos para nós esticando os lábios num sorriso difícil e condescente. Mas depois diverte... e já não olhamos mais para trás.

domingo, 18 de novembro de 2007

Romance

Porque há coisas que duram uma vida


(brevemente nalgum lugar, muito perto de si)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

New York, New York (2)

Pela solidão. Pelo andar nas ruas. Pelo que se fala com a paisagem, com os edifícios.
Pelos olhares cruzados com os estranhos. Pela nossa presença estranha. Pelo nosso corpo na rua.


Nova Yorque como qualquer cidade. Sítio de solidão, do longo vaguear por entre os outros.
E no limite, a loucura. A vertigem do abismo. E o último passo antes da queda onde nos perdemos em nós.

E o mundo lá fora não existe mais.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Séries

É curioso ver como as séries de TV tiveram nos anos mais recentes um crescimento exponencial tanto termos de qualidade como em termos de "culto". É com frequência que vejo na lista de downloads dos meus colegas, e mesmo nas prateleiras dos video clubes, as series de TV a substituir filmes.

Será o antigo público das novelas? Dos filmes? Terá havido um investimento maior na TV? Em argumentistas, em meios técnicos? Estará o cinema dito comercial em crise? A verdade é que por exemplo podemos ver episódios do famosíssimo C.S.I. com uma qualidade superior a muitos filmes do genero nos anos 90.




Aqui em cima está a imagem da melhor série que já alguma vez vi. Absolutamente imperdível devido à inteligencia e ao humor dos diálogos. Devido ao seu conteudo e à pedagogia no que diz respeito à democracia, à política, passando por outras áreas como a economia, a ciência e a arte. Tudo na prespectiva do cidadão e do estado.
Para quem gosta de política encontra tudo lá, e um retrato, visto pela esquerda é certo, de tudo quanto se passou de relevante nos últimos anos nos E.U.A..

Deixo aqui uma frase dita pelo Presidente (Martin Sheen) numa Universidade e mais tarde repetida por uma assessora num concerto: "Decisions are made by those o show up". Uma autêntica lição de cidadania. Tão simples quanto verdadeiro. Decisões são tomadas por aqueles que aparecem.

E nós, temos aparecido?

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Sophia

"O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias"

(via Bússola)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Impressões na tela

E. Hopper, Nighthawks


Nos dias curtos ficaremos ao balcão, enganando assim o escuro que cresce lá fora.

Icones

Espero pacientemente um filme sobre cada um destes dois. Não sei porquê, mas sinto que falta um épico como deve ser baseado na vida destes dois personagens.


Muita gente pensará no abismo que os separa. No entanto, aos olhos do "mercado" do séc. XXI, há muito mais a aproximá-los do que aquilo que se poderia pensar. O pós-modernismo em que vivemos, na era da imagem e do lúdico, "Che" e Maradona fazem ambos parte de uma simbologia popular que ultrapassou (ou contradisse) muito daquilo que eles na realidade foram.
E sim, são dois argentinos.

Queremos épicos, queremos biografias. Queremos saber de história. Queremos nos identificar com heróis caídos em desgraça e conhecer o lado humano de dois mitos do sec. XX.
Queremos saber aquilo que os tornou diferentes no seu tempo (e no nosso). Queremos perceber a genialidade e a galáxia de onde vieram.


Há outros filmes à espera: Miles, Welles, Einstein, Salazar, Cunhal. Mas vamos pedir dois de cada vez.
Façam estes filmes por favor. Há falta de entretenimento Domingo à noite.

A propósito de B.D.


Esta foi a minha grande referência. Alix, o Intrépido. Um jovem romano, de cabelos loiros(!) que vivia em aventuras pelos territórios do imperio.
No início da minha adolescência também eu queria saltar pelos telhados de Roma, triunfar no Coliseu e vaguear pela Gália, Grécia, Egipto...

Mentira! É claro que ainda quero.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Lido

"... deixou-se levar pela sua convicção de que os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as suas mãe os dão à luz, mas que a vida os obriga uma e outra vez ainda a parirem-se a si mesmos"
- Gabriel Garcia Marquez, "Amor Em Tempos de Cólera"

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Beijo


No toque dos lábios, o abandono...
E os olhos fechados, antes do mergulho em ti.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Cinanima

Decorre até ao dia 11, em Espinho, a 31ª edição do Cinanima. Entre os dois autores portugueses que apresentam obras ao certame, conta-se Zepe, um nome conhecido dos apreciadores de Banda Desenhada, agora mais envolvido na aventura do Cinema de Animação.
Quem sugere alguma coisa de mais interessante, além do referido, claro?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Amizades

Podem ser sofás tranquilos. Sítios confortaveis onde encontramos os outros, os iguais a nós. De pernas estendidas vamos desfiando infâncias, cumplicidades. E nas baforadas de fumo antigos afectos aparecem em ondas.

Delicia-me ver os "Amigos de Alex" como se aquele fim-de-semana fosse meu. São meus aqueles amigos, minhas aquelas conversas. Personagens que em dois dias recuperam uma adolescência. Juntam-se em casa, no aconchego das memórias e procuram algo que já não existe.




Mas é amizade. Gasta, fora de tempo. Continua numa troca de afectos, num jogo de espelhos. Continuamos a ser um pouco de nós naquela sala

Aos trinta (e um) a adolescência dá os últimos berros quando a maturidade chegou baixinho sem darmos por ela. E a vida como um contínuo de pessoas, onde na rua encontramos outras afinidades, outros reflexos.

"You can't always get what you want
But if you try sometimes you might find
You get what you need!"
- Rolling Stones


segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Ele há filmes...

Ele há filmes que nos aparecem todos os dias. Filmes nas coisas, nos objectos. Filmes que são as coisas do dia, ruidos, sons aos tropeções, passos indecisos, hesitações mínimas.

Há também os filmes do momento. Filmes feitos de pensamento, do interior. Sensações que acordam na memória deles. Cenas, humores. E uma voz que entoa clara, concisa, definidora.

E há os filmes do entardecer. Romance que nos acaricia os ombros. Vozes que nos abraçam em tempos mortos. E os rostos que nos acompanham quando lá fora escurece devagarinho...

E filmes nossos. Filmes só nossos. Filmes de frases escritas na pedra. Poesia. Pedaços de nós na tela. Ideias. Futuro. São os filmes perfeitos, filmes seguros de si, filmes seguros em si.

... ou os filmes de mãos nos bolsos. Na nossa postura. Na preguiça do dia. Filmes de estilo, egoistas, vaidosos. Filmes que não são nada. Filme feito numa volúpia do corpo, num passo de dança.
Filmes quietos, inúteis a olhar ao espelho.

Filmes cómicos, chorões, ridículos. Filmes no fio do tempo, nas sombras das coisas.

E nós naquele espaço escuro.... por detrás dos olhos