quarta-feira, 22 de julho de 2009

Cinemascópio: Ciclo Reposições ao Ar-Livre- Próxima 6ªf, 24 Julho: Mon Oncle, de Jacques Tati


Ciclo Reposições ao Ar-Livre

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 24 Julho.2009 - 21H45

A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural
Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)

ENTRADA LIVRE

O Meu Tio
Mon Oncle

Realizador: Jacques Tati
Com: Jean Pierre Zola, Adrienne Servatie, Jacques Tati, Jean-Pierre Arpel, Alain Becourt, Lucien Fregis, Dominique Marie

Duração: 111 minutos, Cor
Classificação: M/6
Género: Comédia
País de Origem: França
Ano: 1958

SINOPSE

O senhor e a senhora Arpel têm uma casa moderna num quarteirão asséptico. Eles têm tudo, conseguiram tudo, na casa deles é tudo novo: o jardim é novo, a casa é nova, os livros são novos. Neste universo tão confortável, tão "clean", tão "hich-tech", tão bem programado, o humor, os jogos e a sorte não têm lugar. E o filho Gérard aborrece-se de morte. É então que irrompe na sua vida o irmão da senhora Arpel, o tio, o Sr. Hulot (Jacques Tati). Personagem inadaptada, habituada ao seu mundo caloroso, vai, para delírio do sobrinho, virar tudo de pernas para o ar.

http://cinecartaz.publico.clix.pt/filme.asp?id=18921




O Meu Tio
O sr. Hulot chega à cidade

Quatro anos depois da reposição de "Playtime", eis Jacques Tati de novo nas salas: "O Meu Tio", de 1958. Como noutras ocasiões é imprescindível louvar a reposição, tanto mais que, apesar de alguns sinais positivos nos últimos anos, em Portugal ainda não se recuperou um ritmo regular para as reposições de títulos antigos - e isto anda tão fraquinho que bem podia haver uma por semana.
"O Meu Tio", sem chegar ao extremo de "Playtime" (que, recorde-se, constituiu um tal "flop" que Tati passou o resto da vida a pagar dívidas), também se trata de um filme muito mais apreciado "a posteriori" do que pelos seus contemporâneos. Menos porque os seus contemporâneos fossem cegos ou idiotas do que pelo dimensão "em construção" da obra do cineasta francês, sobretudo até "Playtime". De "Há Festa na Aldeia", ainda nos anos 40, a "Playtime", em 1967, há uma progressão lógica, constante (e ao mesmo tempo surpreendente), que só fica iluminada quando se chega ao fim do ciclo. O futuro aclara o passado, como é costume no cinema, e "Playtime" é o "farol" cuja luz atribui à obra de Tati, aos filmes anteriores como aos (poucos) filmes posteriores, o seu derradeiro e mais unificador sentido. O que é particularmente verdade no caso de "O Meu Tio", sobretudo por nele se começarem a vislumbrar os primeiros sinais do que Tati tentaria em "Playtime". Há alguma tendência, por isso, para considerar "O Meu Tio" como um "filmeetapa", um borrão, um balão de ensaio, onde se deve valorizar acima de tudo o que já aponta para o filme de 1967. Que "O Meu Tio" é um "filme-etapa", certamente, mas no sentido em que são todos os filmes de Tati vistos no contexto da obra. E, dada a posição "axial" que ocupa nesse contexto, "O Meu Tio" até é um filme onde o passado, a obra precedente, conta tanto como o futuro e a obra posterior. É o filme da entrada na cidade, para o pôr assim simplesmente. "Há Festa na Aldeia" e "As Férias do Senhor Hulot" eram filmes de campo, e se a cidade já aparecia no segundo através dos veraneantes citadinos ainda se relevava apenas pela sua matéria humana e social, como conjunto de hábitos, tiques e idiossincrasias das classes médias urbanas. "O Meu Tio" introduz a cidade como cenário, não na forma "total" a que Tati chegaria em "Playtime" mas, um passo de cada vez, através do reduto doméstico - a casa da família Arpel, cujos mobiliário e "gadgets" correspondem a uma primeira instância da impressão de uma ordem (que se pretende) "mecânica" que Tati associa ao espaço urbano. Sublinhando o movimento que é o efectuado pelo próprio Tati do campo para a cidade, a família Arpel podia ser uma das famílias de "As Férias do Sr Hulot" uma vez regressada a casa, e há neles, nos Arpel, uma "plenitude" de personagens que se tornará impossível no universo pulverizado e desconjuntado de "Playtime".
Esse movimento campo/cidade é marcado ainda de outra maneira. Há duas cidades em "O Meu Tio", a antiga (de onde emerge Hulot), rústica, "popular", e a moderna (onde vivem os Arpel), sofisticada, "elitista". A primeira é uma espécie de "persistência" do campo e da ruralidade, uma aldeia em ponto grande, a segunda um espaço de onde qualquer memória desse (ou doutro) tipo foi apagada, visto que só existe o "contemporâneo" e o "moderno". E este, de certa maneira, é o confronto essencial de "O Meu Tio", e um dos seus principais conflitos "poéticos" (o outro, obviamente, é de carácter antropológico mais puro e mais abstracto: os humanos em ambiente mecanizado, surpreendidos pela teimosa persistência da sua humanidade). Embora as duas cidades possam ser unidas por um movimento de câmara, não há verdadeira comunicação nem circulação, são sempre dois mundos distintos, estanques, um mundo em vias de ser apagado pelo outro. Os únicos que circulam e passam à vontade de um mundo para o outro são Hulot, agente do caos, e um grupo de miúdos e de cães que periodicamente mobilizam a câmara de Tati ou lhes cruzam os enquadramentos. Hulot, as crianças e os animais: em "O Meu Tio" equiparam-se, são uma espécie de memória, uma lembrança de uma liberdade e de uma vida "antigas". Que aqui ainda têm um "décor" (espécie de evocação neo-realista, nalguns planos singularmente desolada) mas cujos equivalentes em "Playtime" (as floristas, os pedreiros) já não terão, remetidos para cantos e esquinas da grande paisagem urbana.
Entre a nostalgia e uma aceitação mais ou menos melancólica do "presente" nasce o magistral burlesco de "O Meu Tio". A desarrumação da ordem, a orquestração da desordem. Do "gag" minimalista ao maximalista, "O Meu Tio" contém alguns dos mais clássicos momentos do humor "tatiano". É começar a contá-los. Não há nada de remotamente parecido com isto em lado nenhum, o burlesco (e toda a comédia, se calhar) é uma tradição morta.”

Por: Luís Miguel Oliveira (PÚBLICO)

http://cinecartaz.publico.clix.pt/criticas.asp?id=18921&Crid=1&c=4162


Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura

Apoio: A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural

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Próxima sessão, dia 31 Julho 09: Dias da Rádio, de Woody Allen




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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Cinemascópio: Ciclo Reposições ao Ar-Livre- Próxima 6ªf, 17 Julho: Arizona Dream, de Emir Kusturica


Ciclo Reposições ao Ar-Livre

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 17 Julho.2009 - 21H45

A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural
Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)

ENTRADA LIVRE

Arizona Dream
Arizona Dream

Realizador: Emir Kusturica

Com: Johnny Depp, Jerry Lewis, Faye Dunaway, Lili Taylor, Vincent Gallo, Paulina Porizkova, Michael J. Pollard

Duração: 134 minutos

Idade: M/16

Género: Drama/ Comédia

País de Origem: EUA, França

Ano: 1993


Sinopse:

“Como sonham os peixes?
Johnny Depp é Axel Blackmer, um jovem nova-iorquino obcecado por peixes. Ele monitora o comportamento deles, mas a sua maior curiosidade é saber como eles sonham. Axel viaja para o Arizona para o casamento do seu tio [Jerry Lewis] e lá encontra Elaine [Faye Dunnaway], uma viúva que mora com a filha Grace [Lili Taylor]. O casamento do tio é na verdade um ardil para Axel entrar nos negócios da família, mas para Axel esta viagem tornará-se-à em algo bem mais complexo do que comprar e vender carros. Um filme com toques de surrealismo e que foge da narrativa e dos personagens comuns.”

http://cultura.fnac.pt




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Próxima sessão, dia 24 Julho 09: Mon Oncle, de Jacques Tati




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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Cinemascópio: Ciclo Reposições ao Ar-Livre- Hoje, 6ªf: As Vidas dos Outros, de Florian Henckel Von Donnersmarck






Ciclo Reposições ao Ar-Livre

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 10 Julho.2009 - 21H45

A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural

Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto

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ENTRADA LIVRE

AS VIDAS DOS OUTROS
Das Leben der Anderen

Realizador: Florian Henckel von Donnersmarck

Com: Martina Gedeck, Ulrich Mühe, Sebastian Koch

Duração: 137 minutos

Idade: M/12

Género: Drama

País de Origem: Alemanha

Ano: 2006



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Próxima sessão, dia 17 Julho 09: Arizona Dream, de Emir Kusturica



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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Cinemascópio: Ciclo Reposições ao Ar-Livre- Próxima 6ªf, 10 Julho: As Vidas dos Outros, de Florian Henckel Von Donnersmarck


Ciclo Reposições ao Ar-Livre

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 10 Julho.2009 - 21H45


A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural
Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)

ENTRADA LIVRE

AS VIDAS DOS OUTROS
Das Leben Der Anderen

Realizador: Florian Henckel Von Donnersmarck

Com: Martina Gedeck, Ulrich Mühe, Sebastian Koch

Duração: 137 minutos

Idade:
M/12

Género: Drama

País de Origem: Alemanha

Ano: 2006


Sinopse:

Ao mesmo tempo um thriller político e um drama humano, AS VIDAS DOS OUTROS começa na Alemanha de Leste, em 1984, cinco anos antes da Glasnost e da queda do Muro de Berlim e leva-nos até 1991, à que é hoje a Alemanha reunificada. AS VIDAS DOS OUTROS, acompanha a gradual desilusão do Capitão Gerd Wiesler, um oficial altamente credenciado da Stasi, a toda-poderosa polícia política do regime. A sua missão é espiar um celebrado escritor, George Dreyman, e a sua esposa, a actriz Christa-Maria Sieland. Antes da sua queda, o governo da antiga Alemanha de Leste, conhecida como Alemanha Democrática, assegura o poder através de um sistema impiedoso de controle e vigilância, através da Stasi, uma vasta cadeia de informadores, que chegaram a ser 200.000, numa população de 17 milhões. O seu objectivo era saber tudo sobre AS VIDAS DOS OUTROS. Um filme escrito e realizado por Florian Henckel von Donnersmarck. Com Martina Gedek ("A Bela Marta"), Ulrich Muhe ("Funny Games"), Sebastian Koch ("Amen") e Ulrich Tukur ("Solaris"). [ www.7arte.net ]



As Vidas dos Outros
As Vidas dos Outros: Do outro lado da nostalgia

Depois da projecção internacional do filme de arte, devida a nomes como Rainer Werner Fassbinder, Wim Wenders ou Werner Herzog, o cinema alemão sobrevive, hoje, graças ao prestígio ocasional de filmes sobre a sua História recente, de que avultam as "biografias" dos últimos dias de Hitler ou dos seus oponentes, Hans e Sophie Scholl, resistentes à barbárie nazi. Com efeito, tal intervenção sobre o tecido histórico permite a construção de produtos de qualidade industrial média, capaz de reinventar a fórmula do "docudrama", que se liga, aliás, com a obra "menor" de outro dos grandes nomes do cinema alemão das décadas de 60 e 70, Volker Schlöndorff, cujo "A Honra Perdida de Katharina Blum" (1975), adaptado do nobelizado Heinrich Böll, funciona ainda como matriz incontornável.
"As Vidas dos Outros" encaixa neste paradigma de uma ficção presa a uma reconstituição cuidada e quase teatral de momentos marcantes na evolução de uma Alemanha estigmatizada pelas cicatrizes da Guerra e pela divisão em dois Estados. O argumento assenta, basicamente, na resistência intelectual da chamada República Democrática Alemã à anulação do indivíduo pela máquina repressiva da ditadura comunista, representada pela polícia política, a Stasi.
A este nível, "As Vidas dos Outros" começa por situar-se numa reacção a uma espécie de nostalgia representativa que encontrava na excelente tragicomédia "Adeus Lenine" (Wolfgang Becker, 2003) o seu ponto culminante de fricção: ao contrário deste último, "A Vida dos Outros" não embeleza o folclore risível da diferença; antes, enfatiza um clima de suspeição permanente, um labirinto de denúncias em cadeia, um sistema de chantagem emocional que faz de uma nação um bando de colaboracionistas do regime, perpetuando o medo. Por isso, o filme se socorre da estrutura do "thriller" político para aceder à essência de um mundo ao contrário, em que as escutas telefónicas e as restrições da privacidade parecem constituir a regra, justificando a burocracia de estado pela sua sobrevivência, como se perseguir o direito à diferença constituísse um teatro específico da anulação da individualidade.
Fundamental se torna, assim, o facto de a acção decorrer no mundo exposto do teatro, com uma marcação cerrada dos actores que extravasa do espaço restrito do palco para um outro palco: o tratamento do espaço fechado do apartamento pauta-se por esta noção claustrofóbica de um universo em curto-circuito, em que a polícia política encena o drama em gente e se encena. "As Vidas dos Outros" actua sobre o "real" e constrói um anti-comunismo "justificado" na medida em que fala do que conhece: a repressão não é uma repressão em abstracto, mas um dado real. O agente da Stasi, Gerd Wiesler (prodigiosa interpretação em minimal "underacting" de Ulrich Mühe), embora dempenhado no mecanismo da repressão, acaba por revoltar-se e sabotar o sistema. O que faz deste filme um objecto tão interessante passa, pois, pela rejeição de um demagógico discurso que se cifrasse em esquemático confronto entre Bem e Mal, substituindo-lhe gradações da compreensão do momento histórico em que se torna essencial alterar o dilema moral: dentro do sistema repressivo aparecem germens de discórdia que o fazem implodir, sabotando a facilidade de uma leitura maniqueísta. Não há qualquer fascínio pelo passado, apenas uma crua memória de uma encenação do medo, como se isso bastasse para tornar dialéctica uma relação entre actores e personagens.

Por: Mário Jorge Torres (PÚBLICO)
http://cinecartaz.publico.clix.pt/filme.asp?id=163059


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Próxima sessão, dia 17 Julho 09: Arizona Dream, de Emir Kusturica



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sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cinemascópio: Ciclo Reposições ao Ar-Livre- Hoje, 6ªf, 03 Julho: I’m Not There, de Todd Haynes



Ciclo Reposições ao Ar-Livre


SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 03 Julho.2009 - 21H45

A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural

Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto

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ENTRADA LIVRE

Não Estou Aí
I’m Not There

Realizador: Todd Haynes
Com: Cate Blanchett, Ben Whishaw, Christian Bale, Richard Gere, Heath Ledger, Marcus Carl Franklin
Duração: 135 minutos, COR
Classificação: M/12
Género: Drama, Biografia, Musical
País de Origem: EUA, Alemanha
Ano: 2007

SINOPSE

“Uma viagem pouco convencional à vida e aos tempos de Bob Dylan. Seis actores interpretam o papel de Dylan, como uma série de personagens em mutação – do público ao privado, passando pelo fantasioso – tecendo no seu conjunto um retrato rico e colorido deste sempre esquivo ícone americano. Poeta, profeta, fora-da-lei, falso, estrela eléctrica, mártir do rock’n’roll, Cristão-Novo – sete identidades cruzadas, sete órgãos a alimentar a história de uma vida, tão densa e vibrante como a era que a inspirou.”

http://cinema.sapo.pt/filme/im-not-there

“Se cada pessoa é um mundo, há pessoas que conseguiram que, no espaço de uma vida, coubessem vários mundos. Bob Dylan é uma dessas pessoas. O homem pareceu constantemente escapar às ideias que sobre ele se edificaram, como se houvessem sucessivas máscaras que fosse colocando no rosto - e sempre escondendo o verdadeiro Dylan, que, para começar, nem sequer se chama Dylan, mas Robert Allen Zimmerman... Eu sei, tenho estado por cá desde os tempos em que ele anunciava que os tempos estavam a mudar - e, muito jovem, deixei-me possuir pela voz roufenha e pela harmónica que traçava rasgos no meu peito como um escalpelo que me induzia a procurar cá dentro a minha própria verdade. Tenho estado por cá e não conheço ninguém que não goste de canções de Bob Dylan, nem ninguém que não se tenha afastado da sua música num ponto qualquer do caminho; alguns gritaram «traição!» e voltaram anos depois, outros foram e vieram, outros chegaram tarde - Dylan não tem fiéis.
O homem que nos induziu à verdade, que foi o profeta de toda uma geração, é tão «fake» como uma moeda de três euros? Este filme de Todd Haynes não ajuda à resposta, mas constrói-se, caleidoscópio, jogo de espelhos, como hipótese tangencial a várias dimensões de Dylan. Para tanto, esfacelou-o em seis diferentes personagens (e outros tantos intérpretes), em diferentes idades e fases da sua vida, às vezes procurando uma proximidade icónica - de que o exemplo acabado é a mimética e extraordinária prestação de Cate Blanchett -, outras vezes buscando algo de puramente simbólico. O resultado não é um «biopic», já que não há uma narrativa com sequência clara, são clarões, visões transfiguradas de um mito, pontuadas, em contínuo, pelas canções do trovador. E como Todd Haynes é um cinéfilo, um homem que pratica cinema referenciado, os amantes de cinema podem dedicar-se a decifrar a sinalética que, de Lester a Peckinpah, de Pennebaker a Fellini, por ali abunda.
Não tenho a certeza que alguém que ignore tudo de Dylan consiga orientar-se no dédalo - tanto mais que o seu nome jamais é pronunciado no filme, apenas o genérico nos indica ser a fita «inspirada pela vida e obra de Bob Dylan». Mas as canções estão lá, uma massa que tudo varre como um vento empolgante que não deixa margem para dúvidas. Seria, aliás, curioso poder fazer um esquiço do retrato mental que dele constrói alguém que parta dylaniamente virgem para I’m Not There - Não Estou Aí. Não sei mesmo se ali haverá suficiente informação, de tal modo o filme passa e repassa um tecido cultural e histórico bem delimitado (por exemplo: alguém consegue entender que o primeiro Dylan seja um miúdo negro vagabundo e se chame Woody, ignorando quem foi Woody Guthrie, a sua música, o seu percurso e a influência que Bob Dylan nele foi beber?). Para os outros, todavia, para aqueles que (como o autor destas linhas) tiveram nele uma referência, I’m Not There - Não Estou Aí é um extenso prazer, na descoberta das consonâncias, nas bizarrias desconcertantes com que nos surpreende (caso da sequência com Richard Gere, porventura pouco digerível), na escolha de canções (Haynes pode ter muitos defeitos, nenhum deles é uma tendência para o básico), na deriva de corpos (com uns sentimo-nos à vontade, é ele, com outros resistimos), na interrogação dos restantes comparsas. Mas, sobretudo, o prazer de perseguirmos uma personalidade e só encontrarmos reflexos - talvez Bob Dylan não exista deveras, apenas uma lenda, uma saga, como as dos heróis gregos. Cúmulo dos cúmulos: quando, no termo do filme, o verdadeiro Dylan aparece, finalmente, no ecrã, permanece o efeito de estranheza, como se aquele corpo fosse, afinal, apenas mais um a acrescentar à galeria que desfilara à nossa frente durante mais de duas horas. Não devemos espantar-nos: afinal, desde o título que Todd Haynes nos informara que ele não estaria lá. A verdade sobre um ser humano é uma impossibilidade? Talvez a verdade sobre Dylan, a única que seriamente importa, seja a da música e dos poemas, a das canções, e essa é-nos dada em estado puro. O resto são epifenómenos, a transitoriedade humana.
I’m Not There - Não Estou Aí é uma experiência visual e sonora singularíssima, uma aventura pelo terreno dos significados e dos materiais cinematográficos como poucas vezes experimentamos. Convido-vos a embarcar no navio: a viagem pode não ser esclarecedora, mas é apaixonante.”

Jorge Leitão Ramos
In ACTUAL Expresso, 29 Mar’08, http://www.cineclubeguimaraes.org/filme.php?id=2626

“Bob Dylan é um mito da música popular americana. Apesar de o conhecer desde sempre, confesso que apenas comecei a ouvir a sua música com maior atenção há pouco mais de quatro ou cinco anos. Fiquei imediatamente apaixonado pela sonoridade e, principalmente, pelas letras das músicas, que mais pareciam obras poéticas, com fortes mensagens de protesto. Dylan escreve como poucos no mundo da música. Temas como filosofia, politica e principalmente consciência social, são recorrentes nas letras das suas músicas. Outra característica bem conhecida de Dylan, é o facto de ter passado por fases bastante distintas ao longo da sua vida, sendo que, em cada uma dessas fases, a sua forma de ser e agir mudava tanto que por vezes nem parecia ser a mesma pessoa.

A inconstância existencial de Dylan talvez seja a razão pela qual o realizador Todd Haynes resolveu ter uma abordagem totalmente diferente do que estamos habituados nos “biopics” que temos visto nos últimos tempos. Seis actores foram escolhidos para interpretar personagens que representam Dylan, mas que nem sequer têm o seu nome. Esta escolha, apesar de arriscada, foi a mais acertada pois seria complicado, a apenas um actor, retratar alguém tão complexo e mutável. Ben Whishaw, Christian Bale, Richard Gere, Marcus Carl Franklin, Heath Ledger e Cate Blanchett foram os actores escolhidos para representar as várias fases (ou personalidades) de Dylan. Os segmentos, de cada uma destas personagens, não são contados em separado, as histórias vão-se cruzando e sendo contadas alternadamente ao longo do filme. Esta foi uma opção que, na minha opinião, foi muito bem pensada e conseguida, pois reflecte que as fases, pelas quais Dylan passou ao longo da sua vida, também não foram blocos isolados e separados no tempo.

Sendo este um filme biográfico de um cantor, era inevitável que a música desempenhasse um papel fundamental no filme, sendo, em certas partes, quase que um protagonista do mesmo. Grande parte dos êxitos, que fizeram de Dylan o mito que é, estão aqui presentes. Músicas como "Like a Rolling Stone", "The Times They Are A-Changin'”, "Just like a Woman" e “I'm Not There" são reproduzidas no filme, umas vezes na voz de Dylan, outras nos actores que o interpretam. A ligação entre imagem, música e os diálogos é por vezes tão perfeita e poética que é impossível não nos sentirmos deslumbrados com o que se vai passando diante dos nossos olhos.

Não é de admirar que Todd Haynes tenha obtido o consentimento de Dylan (muitos já tinha tentado obter essa aprovação, mas a resposta foi sempre negativa) para fazer um filme sobre ele. Dylan deve ter visto em Haynes a pessoa ideal para fazer jus à sua vida. Todd Haynes faz um trabalho irrepreensível a todos os níveis. Desde o argumento inovador, escrito pelo próprio, passando pela escolha dos actores e a cinematografia (que alterna entre o preto e branco e a cor), tudo parece estar reunido de forma perfeita.

Com tantos protagonistas, é difícil escolher um nome que se destaque dos restantes. Talvez Cate Blanchett, por ser uma mulher num papel de um homem, e por ser (incrivelmente) a que dá vida à personagem mais parecida, em termos físicos, com Dylan. Este é um elenco repleto de estrelas e de bons actores, sendo que é de destacar que até as personagens mais secundárias (neste caso todos os “não-Dylan”) estiveram muito bem.

Este é um filme enigmático, complexo e poético, tal como a figura que representa. A forma como a história de Dylan é contada é pouca ortodoxa, intensa e bastante alucinante, quase como se de uma letra de uma das suas músicas se tratasse. É, em suma, um filme refrescante, que traz uma lufada de ar fresco ao género, devendo ser visto por quem gosta, ou quer conhecer, Bob Dylan, mas principalmente pela originalidade que apresenta.”

9/10
Luís Costa, www.redcarpe.coresp.com


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Próxima sessão, dia 10 Julho 09: As Vidas dos Outros, de Florian Henckel Vons Donnersmarck




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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cinemascópio: Resultado final das Votações para as reposições ao Ar-Livre






Caros Amigos,

Foi este o resultado final das votações para as Reposições ao Ar-Livre em Julho, somatório de duas votações feitas em formato de papel, nas duas últimas sessões, e das votações feitas on-line, através do nosso blogue:



Resultado Final:




"As Vidas dos Outros", de F. H. von Donnersmarck : 1+ 4+3= 8



"Filhos do Tibete", de Ritu Sarin e Tenzing Sonam (11-Jul) :1+2+0= 3



"Água", de Deepa Mehta (18-Jul) :1+1+0= 2



"O Labirinto do Fauno", de Guillermo del Toro (25-Jul) :1+4+1= 6



"Citizen Kane / O Mundo a Seu Pés", de Orson Wellles: 1+1+2= 4



"O Quarto Mandamento", de Orson Wellles (12-Set):0+3+1= 4



"Macbeth", de Orson Wellles (19-Set) :0+1+0= 1



"A Sede do Mal", de Orson Wellles (26-Set) :0+2+0= 2



"Vertigo", de Alfred Hitchcock (3-Out) :0+3+2= 5



"Má Educação", de Pedro Almodovar (10-Out) :0+3+2= 5



"A Maldição da Flor Dourada", de Zhang Yimou (17-Out) :0+1+0= 1



"Scoop", de Woody Allen (24-Out) :0+1+2= 3



"A Princesa Mononoke", de Hayao Miyazaki (31-Out) :0+2+0= 2



"Rapsódia em Agosto", de Akira Kurosawa (7-Nov): 2 +2+3= 7



"Sayonara", de Joshua Logan (14-Nov) :0+1+0= 1



"Cartas de Iwo Jima", de Clint Eastwood (21-Nov) :0+3+1= 4



"A Declaração", de Norman Jewison (28-Nov) :0+1+0= 1



"Pequenas Flores Vermelhas", de Zhang Yuan (05-Dez) : 2+2+1= 5



"A Cidade das Crianças Perdidas", de J. Jeunet e M. Caro (12-Dez):1+4+1= 6



"Liam", de Stephen Frears (19-Dez) : 1+1+0= 2



"Labirinto", de Jim Henson (26-Dez) :0+3+1= 4



"O Véu Pintado", de John Curran (02-Jan) :1+1+1= 3



"Uma História Japonesa de Amor", de Sue Brooks (09-Jan) :1+0+0= 1

feedback bar

"Uma Outra Mulher", de Woody Allen (16-Jan) :0+2+2= 4



"Adeus, Minha Concubina", de Kaige Chen (23-Jan) :0+1+1= 2



"As Aventuras de Azur e Asmar", de Michel Ocelot (30-Jan) 2+0+0= 2

feedback bar

"Mar Adentro", de Alejandro Amenábar (06-Fev): 2+1+2= 5



"A Câmara de Madeira", de Ntshavheni Wa Luruli (13-Fev) :1+2+0= 3



"Fúria de Viver", de Nicholas Ray (20-Fev) :0+4+2= 6



"Algures em África", de Caroline Link (27-Fev) :0+1+3= 4



"Os Despojos do Dia", de James Ivory (06-Mar): 1+1+0= 2



"A Espada do Samurai", de Yoji Yamada (13-Mar) : 1+1+0= 2



"Tsotsi", de Gavin Hood (20-Mar): 1+0+0= 1



feedback bar

"O Caminho para Casa", de Zhang Yimou (27-Mar) : 1+0+0= 1

feedback bar

"Big Fish", de Tim Burton (03-Abr) :1+2+1= 4



"Hiroshima Meu Amor", de Alain Resnais (10-Abr): 2+3+1= 6



"Arizona Dream", de Emir Kusturica (17-Abr) : 4+2+3= 9



"I'm Not There - Não Estou Aí", de Todd Haynes (24-Abr):0+7+1= 8



"O Crepúsculo dos Deuses", de Billy Wilder (1-Mai) :1+3+1= 5



"Gosford Park", de Robert Altman (08-Mai) :0+2+3= 5



"A Dama de Xangai", de Orson Welles (15-Mai) : 3+2+1= 6



"Match Point", de Woody Allen (22-Mai) : 0+1+0=1



"O Cão, o General e os Pássaros", de Francis Nielsen (29-Mai): 0+1+0= 1



"Mon Oncle", de Jacques Tati (05-Jun): 3+2+3= 8

"Chungking Express", de Wong Kar-Wai (12-Jun):0+2+0= 2



"Janela Indiscreta", de Alfred Hitchcock (19-Jun) :0+3+1= 4



"Os Dias da Rádio", de Woody Allen (26-Jun) :1+4+3= 8



Assim sendo, serão estes os filmes a exibir, nas seguintes datas:



Reposicões ao Ar-Livre

Julho 2009:

3 de Julho:
I'm Not There (Todd Haynes)



10 de Julho: As Vidas dos Outros (Florian Von Donnersmarck)



17 de Julho: Arizona Dream (Emir Kusturica)



24 de Julho: Mon Oncle (Jacques Tati)



31 de Julho: Os Dias da Rádio (Woody Allen)


Agradecemos a todos a vossa colaboração e participação! :)


Um abraço,


Pintar o 7



Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura



Apoio: A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural



CONTAMOS COM A VOSSA PRESENÇA!



Próxima sessão, dia 03 Julho 09: Cinemascópio ao Ar-Livre: Reposições - I'm Not There (Todd Haynes)







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