domingo, 30 de março de 2008

Do Cinema e da Poesia-Tributo a Charlie Chaplin e...Muito Mais!



CANTO AO HOMEM DO POVO - Carlos Drummond de Andrade

Charles Chaplin

Uma cega te ama. Os olhos abrem-se.
Não, não te ama.
Um rico, em álcool,
é teu amigo e lúcido repele
tua riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos
o que há de água, de sopro e de inocência
no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos
que cultuamos, falsos: flores pardas,
anjos desleais, cofres redondos, arquejos
políticos acadêmicos; convenções
do branco, azul e roxo; maquinismos,
telegramas em série, e fábricas e fábricas
e fábricas de lâmpadas, proibições, auroras.
Ficaste apenas um operário
comandado pela voz colérica do megafone.
És parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda vibram,
lagarto mutilado.

Colo teus pedaços. Unidade
estranha é a tua, em mundo assim pulverizado.
E nós, que a cada passo nos cobrimos
e nos despimos e nos mascaramos,
mal retemos em ti o mesmo homem,
aprendiz
bombeiro
caixeiro
doceiro
emigrante
força
do
maquinista
noivo
patinador
soldado
músico
peregrino
artista de circo
marquês
marinheiro
carregador de piano
apenas sempre entretanto tu mesmo,
o que não está de acordo e é meigo,
o incapaz de propriedade, o pé
errante, a estrada
fugindo, o amigo
que desejaríamos reter
na chuva, no espelho, na memória
e todavia perdemos.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Mulheres

Greta Garbo

Há aquelas que nos cativam pela simples presença. Pela maneira como guiam o corpo pelos espaços. Pelo gesto, pelo toque, pelo olhar. Mulheres que muitas vezes ficam longe, afastadas pelo nosso encanto. Mulheres que moldamos com o nosso desejo.

Outras há que surpreendem quando abrem a boca. Após um silêncio desatento, surge uma torrente interior completamente nova. Um outro mundo que se abre e nos confunde. Mulheres por quem nos apaixonamos. A companhia nesse novo mundo que nos abala.

E depois há as outras... Outras que não nos apercebemos. Falam baixinho e ficam ao pé de nós sem darmos por elas. Mulheres que nos ensinam a amar. Pessoas completas que caminham connosco no tempo. Aquelas que nos farão melhores, mais Homens.

Mulheres que chegam no início dos dias. Mulheres que se transformam umas nas outras, num corropio interminável. Mulheres que brilham, ou que nos aquecem lentamente. Ou então que se precipitam no nosso andar.
Mulheres que nos abandonam, à noitinha, sem darmos por ela.

Ou então...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Só porque isto não me sai da cabeça....



... resolvi deixa-lo aqui.
Talvez assim já saia.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Cerimónia

Salvador Dalí, Corpus Hypercubus

Ao chegarmos a esta altura do ano, assaltam-me a memória cenas de Páscoas passadas no meio de cânticos, cerimónias e fervor religioso.
A maior festa dos cristãos celebra-se na Missa de Aleluia, na eucaristia logo após a meia-noite. Nos meus tempos de miúdo, em que era acólito, essa noite era ensaiada dias antes, com tarefas novas e especiais, delegadas com a maior das seriadades.

A cerimónia é o ponto alto de qualquer celebração, onde cada gesto é medido e planeado, e toda a encenação assume um carácter simbólico.

Cerimónia, encenação, espectáculo. Lugar onde o gesto é tudo

A Música e o Cinema - Ennio Morricone



No dia 19 de Março de 2008, o compositor italiano Ennio Morricone recebe, no Chile, a Ordem de Mérito Artístico e Cultural Pablo Neruda (instituída naquele país, no ano de 2004, aquando das comemorações dos cem anos de nascimento do poeta chileno, prémio Nobel da Literatura em 1971).

segunda-feira, 17 de março de 2008

Amanhã

Jack Vettriano, The Billy Boys


Será Verão.
E os finais de tarde cairão no longo silêncio azul.

sábado, 15 de março de 2008

Tributo ao Cinema a Preto e Branco e aos Eternos Actores!




À eterna magia do cinema a preto e branco
À música
Aos grandes, grandes actores (sublime Ingrid Bergman e inesquecível Humphrey Bogart)
Ao meu Pai, com quem aprendi a amar o Cinema
À imensa saudade de o não poder partilhar com ele!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Ainda e sempre o Tempo - "As Horas"

Porque sempre que revejo este filme, viajo no meu (e outros) Tempo
Porque sempre me arrepio a vê-lo

Porque no Tempo em que foi exibido esteve na génese

Da

Pintar O Sete


terça-feira, 11 de março de 2008

Primavera


Aí estão elas! Eu vi as primeiras. Daqui a pouco é vê-las pular os muros, perfumar as estradas e atrair as abelhas.
As Gllicínias anunciam a Primavera tal como as Andorinhas: imitando o voo atabalhoado dos pássaros, aparecem aos poucos pelas ruas, onde a cada ponto espreitam, atrevidas.

Passadas umas semanas, sob o peso do calor, cairão lentamente os seus pedaços roxos.
E o Verão surgirá sobre aquele manto púrpura acumulado na berma da estrada.

sábado, 8 de março de 2008

Cinema, amor e afins

A propósito de uma conversa com dois amigos ontem à noite sobre cinema, amor e afins... ;)


Se algum dia me esquecesse porque é "Morte em Veneza" um dos meus filmes favoritos, cá estaria sempre esta belíssima cena final para mo relembrar...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Palavras

Cyrano de Bergerac, 1990

Aproximam de facto.
Sabemos que não há nada como o toque das mãos ou a troca de olhares - o instante em que tudo é dito, e nós somos apenas corpo.

Mas nas palavras há a descoberta, a transformação. Tudo o que era antes um indefinível rumor, uma leve agitação da alma, ganha vida.
Torna-se certo, seguro e eterno.