quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cinemascópio: Ciclo Nos Quatro Cantos de Mim - Próxima 6ª feira, 09 de Abril: Cyrano de Bergerac, de Jean-Paul Rappeneau



Cinemascópio - Ciclos de Cinema Temáticos

Ciclo Nos Quatro Cantos de Mim

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 09 Abril.2010 - 22H00


Maria Vai com as Outras
Rua de Almada, nº443
Porto

ENTRADA LIVRE

Cyrano de Bergerac
Cyrano de Bergerac

Realizador:
Jean-Paul Rappenau

Com: Gerard Depardieu, Anne Brochet , Vincent Perez , Jacques Weber, Roland Bertin

Duração: 135 min.
Idade: M/12
Género: Drama , Romance
País de Origem: França
Ano: 1990, Cor

SINOPSE

Cyrano ama desde a infância a sua prima Roxanne, mas nunca teve a coragem de lhe declarar essa paixão. Ele julga-se desfigurado, devido ao seu longo nariz, e admite nunca poder vir a ser amado por uma mulher. Pelo seu lado, Roxanne, que nutre por Cyrano uma enorme simpatia, tem como ideal de homem a beleza e o espírito. Ao conhecer Christian, Roxanne apaixona-se por ele, mas este é tímido e não consegue manter uma relação normal com uma mulher. É então que Cyrano ajuda Christian, escrevendo-lhe longas e belas cartas de amor que vão tornar ainda maior a paixão de Roxanne por Christian. Só que Christian não vai aguentar por muito tempo esta situação e Roxanne vai então descobrir o autor de tão belas cartas de amor...

http://www.mooxuu.com/films/detail/13428/


“Continuando o périplo pessoal pelos cinco filmes que considero como "os filmes da minha vida", e depois de já ter opinado sobre "Drácula de Bram Stocker", eis que me proponho fazê-lo agora sobre este fenomenal filme de Jean-Paul Rappeneau: "Cyrano de Bergerac". Realizado em 1990, "Cyrano de Bergerac" é uma adaptação da peça de Edmond Rostand (1868-1918), dramaturgo e poeta francês, que levou a peça pela primeira vez à cena em 1897 no teatro de la Porte-Saint-Martin em Paris. Edmond Rostand criou esta peça inspirando-se em Savinien Cyrano de Bergerac, nascido em 1619 em Perigod. Conhecido pela sua agressividade, arrogância, fanfarronice e valentia, ficou igualmente famoso pelo comprimento anormal do seu nariz que, como ele próprio afirmava "é uma península". Já depois de ter saído do exército, onde é ferido em combate no cerco de Arras, Cyrano dedica-se às ciências e à literatura. Escreve tragédias, comédias e romances. Orgulhoso, eloquente, livre pensador, era respeitado pela sua elevada inteligência e pelo seu gosto por duelos, a maioria dos quais devido a insultos proferidos ao seu desmesurado nariz. Da obra que deixou, salientam-se duas delas em prosa onde descreve viagens à Lua e ao Sol, ambas publicadas postumamente e que lhe trouxeram fama de visionário, um género de antecessor de Júlio Verne. Por tudo isso, já se pode ver que Cyrano foi uma figura de relevo na cultura francesa e a peça de Rostand serviu para o dar a conhecer ao mundo, tornando o seu nome imortal. Sobre o filme: Antes de focar seja o que for, saliento o facto de o filme ser todo em poesia, ou seja, a estrutura dos diálogos e dos monólogos são construídos em verso, é simplesmente uma poema gigantesco, todo ele meticulosamente construído, onde vão desfilando os personagens e os acontecimentos. Sec. XVIII, Cyrano de Bergerac, poeta e soldado, respeitado por todos e idolatrado por alguns, é um homem triste que disfarça esse sentimento escondendo-se debaixo de uma capa de arrogância, prepotência e valentia. Amando desde a infância a sua prima Roxane, Cyrano não tem coragem para lhe transmitir esse sentimento, essa paixão, devido ao facto de se sentir feio, monstruoso, por causa do seu longo nariz, admitindo também que jamais nenhuma mulher o amará. Por seu lado, Roxane desconhece esse cândido sentimento por parte do seu primo e acaba por se apaixonar pelo jovem Christian de Neuvillette, jovem cadete da mesma companhia de Cyrano, que, ao contrário de Cyrano, era esteticamente perfeito mas tinha uma alma de pedra. Desgostoso e decepcionado, Cyrano acaba por jurar a Roxane interceder por ela junto de Christian e é a cumprir este juramento que Cyrano tem a ideía de ser ele a escrever as cartas de amor em nome de Neuvillette, cartas onde Cyrano, usando a face de outro, expressa todo o amor que lhe vai na alma. Este filme que, recordo, é uma adaptação de uma peça do final do séc. XIX, tem, quanto a mim, uma importante mensagem que, para além de pretender atacar de uma forma mordaz a sociedade da altura e, afirmo eu, ainda tão actual em qualquer sociedade contemporânea, tem também a capacidade de enviar um sinal de esperança. Cyrano é um homem feio. Realmente o seu desproporcional nariz transfigura-lhe a cara. No oposto, surge-nos Christian de Neuvillette que tem tudo o que um galã-parte-corações pode ter: é bonito, charmoso, veste-se bem, é delicado, etc. Aparentemente ninguém pensaria duas vezes na escolha a fazer, no entanto, o feio tinha uma alma bela, sedutora, rica, e apaixonada, enquanto o bonito, não tinha a mínima sensibilidade para entender o coração feminino, não sabia dizer a mínima palavra sobre o amor. No filme essa questão é constantemente sublinhada. A beleza exterior de Christian seduzia Roxane, mas era a alma e a inteligência de Cyrano que emanava das cartas que ela amava. Algo que também nos é transmitido, é o facto de todos nós nos considerarmos, de uma forma ou de outra, imperfeitos, até mesmo inaceitáveis, um género de patinho feio. No entanto, e é belo verificá-lo no filme, que em qualquer patinho feio existe sempre um lado de cisne pronto a despertar, todos nós temos um lado de Cyrano. Quanto às interpretações, quero apenas focar as de Gerard Depardieu (Cyrano) e de Anne Brochet (Roxane). São simplesmente fantásticos! Depardieu é credível, apaixonado, arrebatador. Um poeta que dedica a sua vida à alma amada, elevando a sua personagem ao zénite da perfeição. Anne Brochet consegue agarrar muito bem a personagem de Roxane. Ela é quente, sensual, apaixonada e sonhadora, afirmando a certa altura sobre os belos versos de Cyrano: "As palavras são raios e sinto-me encadeada". Para finalizar: Um filme que ainda me faz sonhar e meditar. Será ainda possível haver quem se apaixone apenas bela beleza exterior (sei que há)? E, por outro lado, será possível haver paixão, amor, por uma pessoa sem que lhe vejamos a aparência exterior? Será possível conquistar o coração de alguém sem lhe revelar o rosto e o que poderá acontecer quando a pessoa percebe que está apaixonada por alguém que considera fantástico, mas cuja aparência física não é aquela que ela imaginava? Não é simples responder a estas questões, mas o filmes coloca-as e não escondo que são precisamente algumas delas que mais me fazem pensar. Mais oui, c'est là, je vous le dis, Que l'on va m'envoyer faire mon paradis. Plus d'une âme que j'aime y doit être exilée, Et je retrouverai Socrate et Galilée ! Mais que diable allait-il faire, Mais que diable allait-il faire en cette galère ?... Philosophe, physicien, Rimeur, bretteur, musicien, Et voyageur aérien, Grand risposteur du tac au tac, Amant aussi -- pas pour son bien ! -- Ci-gît Hercule-Savinien De Cyrano de Bergerac Qui fut tout, et qui ne fut rien. ... Mais je m'en vais, pardon, je ne peux faire attendre Vous voyez, le rayon de lune vient me prendre ! Il est retombé assis, les pleurs de Roxane le rappellent à la réalité, il la regarde, et caressant ses voiles Je ne veux pas que vous pleuriez moins ce charmant, Ce bon, ce beau Christian ; mais je veux seulement Que lorsque le grand froid aura pris mes vertèbres, Vous donniez un sens double à ces voiles funèbres, Et que son deuil sur vous devienne un peu mon deuil. TRADUÇÃO Mas sim, é lá, que vos digo, que me vai enviar para fazer o meu paraíso. Mais de uma alma que amo devem lá estar exiladas, e reencontrarei Sócrates e Galileu! Mas que diabo ia fazer, mas que diabo ia fazer neste mar?... Filósofo, físico, Poeta, espadachim, músico e viajante aéreo, amigo de responder a desafios, amante também – não para seu bem! Aqui está Hercule-Savinien de Cyrano de Bergerac que tudo foi e não foi nada. ... Mas vou-me, perdão, não posso fazer esperar Vê-de, o raio de Lua vem buscar-me! Caíu sentado, as lágrimas de Roxane recordam-no à realidade, olha-o, e acariciando os seus véus, não quero que chorem menos este encantador , é bom, o belo Christian; mas quero apenas quando o grande frio tomar as minhas vértebras, dêem um sentido duplo a estes véus fúnebres, e que o seu leito se torne um pouco o meu leito.”

Iceman,
http://pt.livra.com/item/cyrano-de-bergerac/8984857/




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