quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Cinemascópio: Ciclo Laços de Sangue - Próxima 6ª feira, 27 de Novembro: 8 Mulheres, de François Ozon



Cinemascópio - Ciclos de Cinema Temáticos

Ciclo Laços de Sangue

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 27 Novembro.2009 - 21H45

Mede Vinagre (antiga Casa Morgado)
Rua de Morgado de Mateus, nº51
4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)


ENTRADA LIVRE


8 Mulheres
8 Femmes

Realizador: François Ozon

Com:Danielle Darrieux, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Emmanuelle Béart, Fanny Ardant, Virginie Ledoyen, Ludivine Sagnier, Firmine Richard
Duração: 103 minutos

Idade: M/16
Género: Comédia, Musical, Mistério
País de Origem: França
Ano: 2002, Cor


SINOPSE

França, anos cinquenta. Numa sumptuosa mansão, em cenário bucólico e ocasionalmente invernoso, uma família da alta burguesia começa a reunir-se para as festividades natalícias. No entanto, um drama inesperado sucede: Marcel, o dono da casa, foi assassinado. A partir deste cenário de grave crise, oito mulheres das relações da vítima reúnem-se no grande salão da casa questionando-se sobre o crime ocorrido. Através da busca colectiva de motivações mais ou menos evidentes de cada uma delas individualmente, irão tentar perceber o que poderá ter levado uma de entre as oito a assassinarem o único homem da família. Elas são as senhoras da casa – mulher, filhas, sogra e cunhada –, o pessoal auxiliar e um inesperado elemento, também ele feminino, que surge posteriormente. E a partir das revelações dessas oito mulheres sucedem-se a exteriorização de rancores, a descoberta de infidelidades e outras confissões de segredos muito bem guardados até então. Mas quem de entre elas terá assassinado Marcel?

www.7arte.net


Puro deleite

Vincente Minelli meets Agatha Christie? Se quiséssemos reduzir ao estereótipo este saboroso filme de François Ozon o chavão até poderia funcionar. Mas nessa conversão fácil – e mesmo que as influências sejam assumidas - perder-se-iam todas as subtilezas do talentoso realizador francês. Em todo o caso, uma belíssima homenagem ao musical dos anos 50 e às comédias francesas da época. Por isso mesmo, chapeau pela iniciativa de fazer cinema para (o nosso) puro deleite. Nosso, do espectador, das actrizes e dele próprio. Razões de sobra para considerar “8 Mulheres” como um dos mais saborosos filmes deste ano.
A intriga já se sabe que junta 8 mulheres em redor de um homem morto. E não é um homem qualquer; é o pater familias daquela mansão isolada, que, de uma forma ou outra, reuniu ódios secretos entre as damas inquilinas.
Próximo de “Gosford Park”, mas com uma fleuma muito mais fancófona e musical, Ozon distancia-se de Altman pela forma mais rígida como dirige as actrizes e pelo sentido lúdico da representação. Admirável, sobretudo se o virmos depois do melodrama “Sob a Areia”. Ainda mais se pensarmos que não se deteve a indiciar o filme com tons de um erotismo atrevido bem aceite por todas as Mulheres. Atenção os fabulosos números musicais.”


Paulo Portugal, http://www.7arte.net/cgi-bin/c_critica.pl?id=Paulo%20Portugal-01723



O CINEMA FOI AO TEATRO PELA MÃO DE FRANÇOIS OZON


Ainda não é de há muito a exibição entre nós de «Sob a Areia», um filme de intenso dramatismo que significava uma valorosa incursão do cinema na intimidade psicológica de uma mulher que se recusava à aceitação da morte do seu companheiro, e eis que o realizador responsável por essa obra volta ao nosso seio através de outro filme seu em exibição nas salas de cinema portuguesas, «8 Mulheres». E não podia ser mais radical relativamente a «Sob a Areia» a nova abordagem cinematográfica do jovem realizador francês. «8 Mulheres é uma comédia que procura evidenciar-se artisticamente através de algumas premissas que se refugiam numa determinada ambiência de “glamour” e sofisticação. Tal como o humor que intenta. Mas, mais do que isso, o novo filme de Ozon procura situar-se no cinema dos anos cinquenta por meio da comédia clássica por onde maioritariamente vagueia, ou estendendo-se por universos próprios da comédia musical. Neste particular de vertente musical, o engraçado é que num filme de homenagens ao cinema, e porventura às mulheres em geral personalizadas nas actrizes que interpretam a película, onde o que impera é a paixão pelo clássico e pelo sofisticado, as músicas escolhidas tenham todas elas um cariz fortemente popular. Mas esta curiosidade talvez explique as verdadeiras intenções de Ozon na concepção deste seu filme: adaptar livremente uma peça de teatro para o cinema não escondendo nunca as origens teatrais do filme. E usar mesmo nessa transposição para o cinema de códigos muito mais ligados à arte dos palcos. Fazendo sempre questão de o evidenciar, acentue-se.

Em termos do seu enredo, a narrativa socorre-se da intriga celebrizada nos policiais de Agatha Christie até pelo modo como as personagens, circunscritas a um só salão, se vão questionando e colocando em causa através das motivações mais ou menos evidentes que poderão ter levado uma das oito mulheres em cena a hipoteticamente assassinarem o único homem presente na trama. Um homem a quem nunca vimos o rosto dado que a sua presença ali é um mero artifício para juntar oito mulheres nas situações mais rocambolescas que se possam imaginar. Elas são as senhoras da casa – ascendentes e descendentes –, a criadagem e um elemento mais inesperado. Um elemento no feminino, sempre no feminino. E a partir das revelações dessas oito mulheres sucedem-se a exteriorização de rancores, a descoberta de infidelidades e outras confissões de segredos bem guardados até então.

O que se pode dizer de superlativo deste filme é que ele consiste num curioso e interessante exercício de estilo do próprio Ozon. Todas as actrizes, sem excepção, estão bem nos seus papeis. Isto é, são seguras e competentes. Mas a verdade é que a segurança de Danielle Darrieux, a anciã do clã, a beleza insinuante de Emmanuelle Béart, elemento do pessoal auxiliar, a irreverência interpretativa de Isabelle Hupert, a solteirona histérica, a classe e sofisticação de Catherine Deneuve, a mulher do morto, ou a desenvoltura de Fanny Ardant, a irmã, amante e familiar indesejada, para só citar algumas das actrizes e personagens, não são inteiramente suficientes para tornar este filme algo mais que simpático e agradável no seu desenvolvimento geral. Isto é, para fazer deste um filme conseguido em toda a sua plenitude. Talvez porque nele se integrem alguns momentos de humor bem conseguido mas que padecem de uma sensação que se pressente por vezes como se de mera rotina descritiva se tratassem. Não está nunca em causa a capacidade de Ozon como cineasta, pois percebe-se o seu inegável talento. Mas o que se percebe igualmente, conclui-se, é que esta é uma aposta não totalmente conseguida em termos daquilo que eram as pretensões de Ozon através das apostas altas que fez nos cenários, nas actrizes e no próprio universo diminuto em que rodou a sua história. Ao cinema por vezes não bastam competência interpretativa, preciosidades decorativas e uma excelente optimização do espaço relativamente às características específicas do enredo. Junto com outros pormenores, que não interessará agora enumerar, o cinema necessita muitas vezes de algo que aqui não me parece que tenha existido o suficiente: rasgo narrativo e vigor emocional, já que a vertente intelectual da comédia é extremamente meritória. Em suma, e pese embora o referido, um filme a descobrir pela generalidade dos espectadores mas muito em especial pelos adeptos do género revivalista que encarna.“


Joaquim Lucas
(7arte.net)
2002.10.14, http://www.7arte.net/cgi-bin/c_critica.pl?id=Joaquim%20Lucas-01723


Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura

Apoio: Mede Vinagre


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