quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Cinemascópio: Ciclo Suspeita em Suspense - Próxima 6ª feira, 16 Outubro: Nada a Esconder, de Michael Haneke


Cinemascópio - Ciclos de Cinema Temáticos

Ciclo Suspeita em Suspense


SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 16 Outubro.2009 - 21H45

Mede Vinagre (antiga Casa Morgado)
Rua de Morgado de Mateus, nº51
4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)


ENTRADA LIVRE


Nada a Esconder
Caché

Realizador: Michael Haneke
Com: Daniel Auteuil, Juliette Binoche, Maurice Benichou, Annie Girardot
Duração: 114 minutos

Idade: M/16
Género: Thriller / Drama
País de Origem: França/Áustria/Alemanha/Itália
Ano: Cor, 2005

SINOPSE

Georges, apresentador de um programa televisivo de crítica literária, recebe pacotes contendo vídeos dele próprio com a sua família - filmados secretamente da sua rua - e desenhos alarmantes de significado obscuro. Não faz ideia de quem possa ser o autor. Gradualmente, o material contido nas cassetes torna-se mais pessoal, sugerindo que o remetente conhece Georges há algum tempo. Georges sente a ameaça pairar sobre si e a sua família mas, devido à inexistência de uma ameaça directa, a polícia recusa-se a ajudá-lo.

www.cineteka.com


“O mínimo que se pode dizer sobre [CACHÉ], em português "escondido", título bem mais feliz do que o escolhido, mesmo que repetido ao longo do filme por Daniel Auteuil, é que se trata de um dos melhores thrillers psicológicos dos últimos tempos, uma demonstração de como os mecanismos do medo e da violência funcionam de modo subtil e sublime.
Uma família trivial, ele apresentador de um programa de televisão sobre literatura, ela trabalhando numa editora cujo patrão é amigo do casal e um filho estudante de liceu, vê a sua vida perturbada pela inesperada chegada às suas mãos de cassetes de vídeo acompanhadas de estranhos desenhos, aparentemente infantis.
As cassetes contêm imagens captadas do exterior da sua casa, a invasão da privacidade desencadeia o medo do desconhecido, a suspeita vai-se generalizando, estendendo-se dos amigos do filho aos do casal, nos sonhos do marido despontam fantasmas antigos e perturbadores.
As coisas complicam-se, quando a desconfiança se instala no casal, surge a mentira, sob a pressão do que lhes está a acontecer, o casal parece afastar-se, tornar-se vulnerável.
Daniel Auteuil é Georges, Juliette Binoche é Anne, Annie Girardot interpreta o papel da mãe dele, fundamental no entendimento deste mistério que num encontro psicanalítico o levará e ao espectador até Majid, peça-chave entregue a Maurice Bénichou.
Sem um momento de violência física, sem um relance de sexualidade, o filme de Haneke é percorrido por uma tensão psicológica lançada aos olhos e ouvidos do espectador com grande mestria e mantida sem hesitações até ao plano final que nos deixa sem sabermos se será a realidade do filme, a visão subjectiva de uma personagem, as imagens de mais uma cassete a enviar a alguém, depois da imagem escurecer e as luzes se acenderem na sala de cinema.
Distinguido em Cannes com os prémios para melhor realizador, FIPRESCI e do Júri Ecuménico, e nos Prémios de Cinema Europeu nas categorias e melhores actor, realização, montagem e filme, para NADA A ESCONDER, de Michael Haneke, com Daniel Auteuil e Juliette Binoche, 4 écrans, filme decididamente a ver.”

Falco Fernandes, http://www.fm-media.net/news02/1085.htm


“Este texto foi publicado na revista «6ª», do «Diário de Notícias» (13 Jan. 2006), com o título `A doença das imagens`.

O novo filme de Michael Haneke, «Nada a Esconder», é um conto moderno sobre a vida das imagens, uma espécie de fábula assombrada sobre o poder daquilo que as imagens mostram e, sobretudo, do modo como o mostram. Bastará recordar o seu ponto de partida para nos apercebermos da inquietação que o atravessa: esta é a história de um casal, Georges e Anne Laurent (Daniel Auteuil/Juliette Binoche), que começa a receber cassetes de vídeo anónimas onde descobre imagens de si próprio, no dia a dia… Trata-se de um processo aparentemente chantagista, tanto mais perturbante quanto se começa a cruzar com algumas memórias traumáticas da infância de Georges.

Em todo o caso, não se julgue que o dispositivo montado por Haneke se reduz a uma lógica tradicionalmente policial. Ou seja: a eventual identificação dos responsáveis pelas imagens não basta para colocar um ponto final no drama do casal. Porquê? Porque aquilo que Haneke filma é um modo de vida em que as imagens, mais do que um “duplo” da realidade, passaram a existir como uma nova realidade, fortíssima e incontornável, enredada em todas as componentes da nossa existência.

Há, aliás, na definição do casal Laurent uma curiosa “oposição” que, num cinema tão preciso com os detalhes como é o de Haneke, está longe de ser indiferente. Assim, ambos trabalham com livros, mas ela fá-lo numa editora, enquanto ele apresenta um programa de divulgação na televisão. Quer isto dizer que Georges e Anne são personagens em trânsito entre a herança de um conhecimento predominantemente literário e a realidade triunfante de uma cultura dominada pelas imagens, ou melhor, pela gigantesca multiplicação dos respectivos circuitos de difusão. Daí o mal-estar que vai crescendo: as imagens que recebem são a prova real da sua vulnerabilidade, já que instalam no quotidiano, não o delírio canónico da ficção romanesca, mas uma espécie de hiper-realismo doentio que corrói todas as relações.

Daí também a infelicidade da solução adoptada para o título português. É certo que «Nada a Esconder» provém de uma frase dita pela personagem de Georges (que, face ao processo de “vigilância” a que a sua família é sujeita, proclama não ter “nada a esconder”). Mas é um título que inverte por completo a questão fulcral do filme, isto é, a existência de algo ou alguém “escondido” que vai dinamitando toda a estabilidade da vida quotidiana. A opção por «Nada a Esconder» é tanto mais inadequada quanto desmente também o original Caché (=escondido) que, aliás, nos mercados de língua inglesa deu origem à tradução literal «Hidden».

Haneke retoma, aqui, esse sentimento ambivalente que perpassava pelo seu extraordinário «Código Desconhecido» (2000), aliás também com Juliette Binoche. «Código Desconhecido» funcionava como uma metódica inversão do “naturalismo” gratuito da actualidade mediática e televisiva: alguns temas actuais (a violência no quotidiano, a agressão contra as mulheres, a errância europeia dos refugiados) reapareciam em tom de realismo fragmentário, visceral, irredutível. Em «Nada a Esconder», a questão da decomposição da vida privada surge, não como a excepção, mas a regra das sociedades de consumo pós-modernas.

Daí que seja inevitável sublinhar o que, face às ressonâncias “simbólicas” dos filmes de Haneke — lembremos a parábola política de «O Tempo do Lobo» (2002) — tantas vezes tende a ser esquecido. A saber: a espantosa riqueza psicológica do seu cinema. Na verdade, «Nada a Esconder» é também um retrato íntimo, obsessivo até ao pormenor mais delirante, de uma “família-como-as-outras” e da terrível ausência de comunicação que assombra as suas relações interiores. O efeito das cassetes anónimas no dia a dia dos Laurent é tanto mais violento quanto as suas imagens tornam sensível uma teia de solidões que tem o seu cume na personagem cinzenta, inquietante na sua opacidade, do jovem Pierrot (Lester Makedonsky), o filho do casal. Face ao mito das famílias “libertas” pelo bem-estar económico e tecnológico, Haneke contrapõe uma paisagem gélida de seres que, de facto, perderam o gosto, o afecto e até a própria ideia de comunicação.

Estreado no Festival de Cannes de 2005, «Nada a Esconder» (ou, insisto, Caché) é um fabuloso exemplo de um cinema de raiz europeia que possui uma abrangência temática e um sentido de risco que lhe conferem uma automática dimensão universal. Projectado internacionalmente através de «Funny Games» (1997), consagrado através de «A Pianista» (2001), Haneke confirma-se como um dos mais acutilantes retratistas de uma tragédia que o mundo televisivo todos os dias nos oculta: a de uma solidão que julgamos apagada pela simples proliferação das tecnologias de “comunicação”. No limite mais cruel, somos nós que estamos escondidos da nossa própria verdade.”

João Lopes, www.cinema2000.pt




Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura

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