terça-feira, 9 de junho de 2009

Cinemascópio: Ciclo Gente, Cidades: Vidas - Próxima 6ªf, 12 Junho: Chungking Express, de Wong Kar-Wai


Cinemascópio - Ciclos de Cinema Temáticos

Ciclo Gente, Cidades:Vidas



SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 12 Junho.2009 - 21H45



A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural

Rua de Morgado de Mateus, nº41

4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)

ENTRADA LIVRE



Chungking Express

Chungking Express


Realizador: Wong Kar-Wai

Com: Brigitte Lin, Tony Leung, Chiu Wai, Faye Wong, Takeshi Kaneshiro, Valerie Chow, Chen Jinquan, Lee-na Kwan, Huang Zhiming, Liang Zhen, Zuo Songshen



Duração: 98 minutos, Cor

Classificação: M/12

Género: Comédia, Drama, Romance

País de Origem: Hong-Kong

Ano: 1994



SINOPSE

Deslumbrante como um fogo-de artifício. Um filme a descobrir e a admirar. - Manuel Cintra Ferreira, Expresso.

Um dos filmes mais marcantes dos anos 90. - Vasco Câmara, Público.

A história começa na noite de 30 de Abril para 1 de Maio de 1994 em Chungking House, um labiríntico complexo comercial de Hong-Kong. Uma mulher chinesa de peruca loira tenta recuperar alguma heroína que se encontra entre as coisas de um grupo de paquistaneses, para fazer passar as drogas para fora do país. A data de 1 de Maio marca também um mês desde que o agente da polícia nº 223, vigilante daquele local, foi abandonado pela sua namorada. Ele jura apaixonar-se pela primeira rapariga que entrar pela porta do centro comercial: é a traficante loira que aparece...
Num restaurante de fast-food, Faye, uma jovem irrequieta, ouve a canção que está nos tops, "California Dreaming". Um outro polícia, cliente habitual, acabou de perder a namorada, que depositou a chave do seu apartamento no restaurante. Faye apodera-se da chave e vai penetrando secretamente no apartamento do polícia para perturbar a sua ordem doméstica.

http://www.cineteka.com/index.php?op=Movie&id=001909





O mundo encontra-se catalogado e arrumado em prateleiras psicológicas e teóricas. É pena, mas por vezes necessário. E o cinema não é diferente. Se tivermos de definir categorias base de filmes, temos os filmes maus, os médios, os bons filmes e dentro da categoria das cinco estrelas temos os filmes geniais; depois só mesmo os filmes de culto e as obras-primas. Chungking Express reúne estas duas últimas.

*


Pelas ruas apinhadas, quartos apertados e bares solitários de Hong-Kong deambulam histórias de abandono, tristeza e amor. São pessoas iguais a tantas outras, mas são também misteriosas e únicas, com algo especial para nos revelar. Desde paixões por ananás em lata, peluches, músicas em altos berros e hospedeiras de bordo, há de tudo. O motivo, esse, é sempre o mesmo: encontrar um rumo, se possível ao lado de alguém.

Os prémios já não interessam a “Chungking Express”. Drama, mistério e romance pleno de ironia, amargura e esperança; o filme possui já o seu lugar de destaque e por lá permanecerá por muito tempo. Porque a sua mensagem, feita das várias que sucintamente as personagens nos vão oferecendo, é pura e comovente, acima de tudo inspiradora: os revezes na vida de cada um acabam sempre por acontecer, mas nunca para sempre...

Duas histórias em paralelo e com um ponto em comum, um pequeno snack -bar onde os seres solitários vêm pedir cachorros, pizzas, saladas, colas e fazer uns quantos telefonemas.


He Zhiwu, Cop 223
Se a minha memória dela tiver data de validade, que expire só daqui a 10.000 anos...


Nos Estados Unidos foram o apoio e promoção de Tarantino que fizeram crescer o filme junto do público. Pela Europa a divulgação fez-se pelos caminhos habituais das “reviews” de meia-dúzia de afortunados iluminados que aproveitavam as micro-sessões disponíveis e iam passando a mensagem. O real volume de adeptos foi surgindo e crescendo com as transmissões nas televisões e alugueres nos clubes de vídeo.

O raro merchandising, como a banda-sonora original, também ajudaram ao culto (em Portugal, por exemplo, o CD só está disponível por pedido expresso e pelos trâmitos normais de uma “import”, caso contrário...).


E é também na música que o filme demonstra um dos marcos fortes com que Kar-Wai cunha sempre os seus filmes: as músicas repetitivas e incessantemente recorrentes. Os dois casos-chave de “Chungking Express” (e note-se a curiosa repetição nos nomes) são “California Dreamin’”, dos The Mamas and Papas, e “Dreams”, dos The Cranberries. Esta última surge-nos cantada em cantonês pela própria Faye Wong, o mesmo sucedendo à sublime “Know Who You Are at Every Age”, dos Cocteau Twins.

Pelo meio temos dois polícias que nos ensinam várias técnicas de sobrevivência. Um prefere correr para não ter de chorar, porque desse modo esgota e seca toda a água do corpo; O outro segue uma vida regada de memórias recuperadas a toda a hora e deixa o choro para a própria casa, enquanto vai falando com panos do chão e peças de roupa...

“Chungking Express” é poesia em estado fílmico. Um fabuloso exercício estético que não subverte o que tem para dizer, muito pelo contrário. Por mais vezes que se veja o filme haverá sempre alguma coisa a retirar dele que não se tinha notado da última. O cruzamento das várias personagens nos mais variados cenários é apenas uma parte do jogo que se vai descobrindo. E o momento desses encontros fugazes não são despropositados...

Este magnífico Expresso do Oriente em formato película não tem linha definida, o trajecto passa rente a coincidências que nunca o parecem ser por acaso e o cartaz para onde todos olham, de dia ou nos seus sonhos, repete-se: a paixão, o amor, a fuga à solidão, a partilha.

Na técnica também “Chungking Express” apertou os olhos de muitos espectadores. Os saltos em stop-motion e os movimentos irregulares e agitados de “câmara na mão” sacodem na abordagem visual, sempre enérgica e vibrante; Dizem uns que é difícil de acompanhar, correcto será dizer diferente, mas a verdade é que cada perseguição do jovem polícia ou da misteriosa mulher oriental de peruca nos passa da retina para a memória e dos meandros do córtex não sairá mais.

O trabalho de cinematografia com Christopher Doyle merece especial destaque, sobretudo porque não foram raras as adaptações e reutilizações do estilo para inúmeras sessões de fotografia nas mais famosas revistas a viajar por esta aldeia global.


Estreado no Festival de Locarno, na Suiça, em 1994, seria apenas dois anos depois que o filme chegaria a Portugal, em Abril de 96. O período necessário para a decifração do filme e sua comunicação “bouche-à-oreille”, contudo, parece ser trabalho de artífice; tem levado tempo; mas se de início não passava da categoria de “filme estranho e pseudo-intelectualóide”, agora assume-se já como obra-prima e filme de culto de uma profundidade inspiradora. Quem comprou o DVD exibe-o já naquela prateleira do móvel da sala que matematicamente se coloca sempre à frente dos olhos de quem entra. E tem todas as razões para isso.

Com “Chungking Express” Wong Kar-Wai assina a sua obra mais emblemática até ao momento, oferece-nos várias histórias de sobrevivência e tem ainda tempo para nos fazer esboçar alguns sorrisos. Cada personagem está carregada de uma profunda densidade e até aquelas que nunca ou raramente falam (e.g. o ocidental de cabelo grisalho do bar e a sua amante chinesa) nos comunicam alguma coisa. O mais estranho é que nem sempre é perceptível e imediata a mensagem; por vezes fica-se com uma certa “impressão”, mas raramente Kar-Wai nos abandona, antes nos deixa como às suas personagens, a procurar cada uma a sua saída.

Um filme de culto elevado aos altares do cinema dos anos 90. Imagens em cores vivas, cruas e quentes que são postais ilustrados e quadros vivos. E os pensamentos das personagens masculinas a repousar nos silêncios maravilhosos e misteriosos das mulheres que ambicionam, tenham elas óculos escuros e revólveres ou simplesmente uma mala e um bilhete de avião.

A cada 10 anos aparece um filme assim. Com “Pulp Fiction” os anos 90 receberam dois. E que dois!...


Ricardo Jorge Tomé,

http://www.rtp.pt/programas/index.php?article=334&visual=4&area=sugestoes



Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura



Apoio: A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural



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Próxima sessão, dia 19 Junho 09: Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock







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