quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cinemascópio: Ciclo À Margem Duma Certa Maneira - Próxima 6ªf, 3 Abril: Big Fish, de Tim Burton


Cinemascópio - Ciclos de Cinema Temáticos

Ciclo À Margem Duma Certa Maneira

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 03 Abril.2009 - 21H45


A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural
Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)

ENTRADA LIVRE

O Grande Peixe

Big Fish

Realizador: Tim Burton
Com: Ewan McGregor, Albert Finney, Jessica Lange, Billy Crudup, Steve Buscemi, Helena Bonham-Carter, Danny DeVito
Duração: 125 minutos, COR
Classificação: M/12
Género: Drama
País de Origem: EUA
Ano: 2003

SINOPSE

“A luta entre a verdade e a mentira, entre a realidade e a ficção, encontra neste filme a sua mais apaziguadora trégua. Só Tim Burton conseguiria tornar credível o inverosímil, lidando com a fantasia como se esta fosse parte integrante do nosso quotidiano.
William cresceu no meio de uma bruma de histórias fantasiosas e plenas de personagens ficcionais com que o pai lhe dava a conhecer a sua vida, como se de uma longa aventura se tratasse. Quando, na adolescência, descobriu que nada daquilo poderia ter alguma vez existido, abre-se um fosso de incompreensão entre os dois. Mas haverá tempo para estreitar esse fosso? Para conseguir perceber essa personagem que foi o seu pai, agora que o seu tempo de vida corre para o final?
Que coisas inventamos para que gostem de nós? Que mentiras dizemos para fazer os outros felizes? E se até a realidade conseguisse surpreender-nos ao ponto de acharmos que estamos a viver um sonho?
Ao contarmos uma história enfatizamos sempre os acontecimentos que são mais relevantes para nós, carregando de adjectivos e metáforas todas as imagens que possam reforçar as nossas emoções. Enquanto isso os momentos negligenciáveis passam a correr, ou são mesmo cortados na censura da nossa memória. E Tim Burton é, de facto, um contador de histórias, defensor dos incompreendidos, como Eduardo Mãos de Tesoura (será coincidência o nome?), e de marginais como em O Estranho Mundo de Jack, traz-nos aqui Edward Bloom, o último sonhador.
Neste papel, o desarmante Albert Finney partilha o seu desempenho quando jovem com Ewan McGregor. Os cenários teatrais e technicolor são ainda divididos com a lindíssima Jessica Lange, reproduzida por Alison Lohman, Danny DeVito, Steve Buscemi, Helena Bonham-Carter (uma dupla presença da esposa do realizador) e, num papel feito à sua medida, Matthew McGrory desfila os seus 2,40 metros de altura.
O título do filme vem da pequena história mencionada no início, segundo a qual o peixe dourado, pequeno como é normal vê-lo no aquário, poderia crescer até quatro vezes o seu tamanho se deixado em liberdade. Edward Bloom é esse peixe, que deixa a sua pequena cidade e sai pelo mundo, para poder crescer. Mas Tim Burton faz com que esse peixe sejamos também nós, e, através da poderosa arma da imaginação, liberta-nos da pequenez da nossa realidade, dando-nos a oportunidade de crescer nesse imenso oceano que é a fantasia.”

http://cinerama.blogs.sapo.pt


"UM PAI DE SONHO

Para quem sempre admirou o trabalho de cineasta da fantasia e do desatino protagonizado por Tim Burton e se desiludiu com «Planeta dos Macacos», este filme marca o reencontro entre almas que pulsam ao mesmo ritmo; isto ainda que algumas vibrem em uníssono somente na admiração que sentem pela outra, a do genial cineasta.


Há um poema de Manuel Alegre que canta no seu início: “Pergunto ao vento que passa notícias do meu país e o vento cala a desgraça, o vento nada me diz”. E, na segunda quadra, o poeta insiste em entoar a sua mágoa: “Pergunto aos rios que levam tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam, levam sonhos deixam mágoas.” Vem isto, esta evocação da poesia portuguesa, a propósito do mais recente filme de Tim Burton, também ele um poema ainda que escrito na tela e “sussurrado” aos nossos corações nas imagens em movimento que o cinema transforma magistralmente em sonho. Em «Big Fish», no seu título original, há realidade transformada em fantasia delirante, há fragrâncias de uma infância que deixou contusões na alma, a de Burton, e existe mágoa tal como no poema citado. Mas também se vê deambulando lá pelo filme, preenchendo-o, uma personagem que cresceu, se tornou adulta, envelheceu, mas que manteve intacta e permanentemente exposta ao mundo em seu redor a vertente mais extravagante da sua alma de menino. Em Tim Burton essa alma também se faz sentir de modo cintilante, quer seja na inquietude dos relatos fantásticos e pungentes, ou, por outro lado, no acutilante delírio do contagiante humor negro presentes no seu cinema. E esta sua obra, adaptada do romance de Daniel Wallace, volta a causar uma tremenda emoção depois do interregno de genialidade obtido com o pouco menos que sofrível «Planeta dos Macacos» (2001).

Edward Bloom (Albert Finney) encarna esse homem maduro mas de âmago eternamente juvenil que durante toda a sua vida contou histórias inverosímeis sobre as suas igualmente incríveis aventuras em torno do mundo. A todos Bloom encantava menos a William (Billy Crudup), o seu filho, que sempre o acusou de constante ausência durante o seu processo de crescimento e de ter escondido de si a sua “identidade” real. Quer seja à mulher, à companheira do filho ou ao próprio William, Ed Bloom nunca deixou de narrar as suas delirantes façanhas onde cabiam todo o tipo de figuras excêntricas desde gigantes de rosto deformado, passando por empresários de circo durante o dia e lobisomens à noite até cidades paradisíacas onde os seus habitantes caminhavam de pés descalços sobre a relva das ruas e escondidas do mundo por florestas perigosas. Nesses momentos de juventude e peripécias, chegados em contínuos ‘flash back’ até nós, Ed é protagonizado por Ewan McGregor e Sandra, a sua mulher e mulher da sua vida, por Alison Lohman (na fase madura, por Jessica Lange). Num estádio derradeiro, Will irá tentar perceber que o modo de vida que o pai escolheu trilhar não foi tanto uma mera opção mas mais uma condicionante de uma personalidade que catapultava o ser que a possuía para lá da simples sujeição à tolerância de si e dos outros criando um mundo que se revelou de dimensão bem maior que aquele mundo de ficção com que era olhado de fora.

Tim Burton regressou pois ao misticismo do seu cinema onde a realidade se funde com a fantasia. Mas um cinema onde o permanente surrealismo dos relatos efectuados não dispensa nunca um sentido do detalhe que aqui permite descobrir traços de uma busca retrospectiva que se confunde com o seu próprio percurso existencial. E se bem que a família tem nesta sua realização um papel primordial, esse facto não invalida o distanciamento afectivo existente entre dois dos elementos nucleares dessa família – pai e filho – e o percurso de alguém que logra contrariar uma solidão a que a sua inadaptação à realidade certamente o condenaria. E, neste âmbito, temos igualmente presente na fita a figura do anti-herói o que se tem revelado como uma constante na filmografia do genial realizador.

Neste cinema feito de sensibilidade e sedução, cabe fazer três importantes destaques individuais para além do óbvio reconhecimento a Burton: a Albert Finney e Ewan McGregor, convincentes, respectivamente, como Ed Bloom velho e novo e nos seus papeis de narrador e protagonista de assombrosas aventuras, e a Philippe Rousselot, responsável pela fotografia viva e colorida que ajuda a conceder uma dimensão mítica mas alegre e viva às estórias de Bloom. Quanto a Tim Burton, uma só palavra resume este seu trabalho: extraordinário! As pontuações mais altas de uma nota geral já por si muito elevada vão no entanto para o modo como a sua realização prova, já no final do filme, como a imaginação mais fascinante não é mais que o resultado do talentoso exagerar da realidade (vide a cena do funeral onde é evidenciada a verdade da mentira) e para a opção pelo narrador que concede à fábula uma maior expressividade. «Big Fish» acaba por funcionar como um bálsamo para a alma e um incentivo para que nunca percamos de vista das nossas vidas o sonho e a fantasia. Obrigatório.”


Joaquim Lucas, www.7arte.net





Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura

Apoio: A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural

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Próxima sessão, dia 03 Abril 09: Big Fish, de Tim Burton




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