terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cinemascópio: Ciclo Puxando os Fios da Trama - Próxima 6ªf, 3 Outubro: Vertigo, de Alfred Hitchcock



Cinemascópio - Ciclos de Cinema Temáticos
Ciclo Puxando os Fios da Trama

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 03 OUTUBRO.2008 - 21H45

A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural
Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto
(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)
ENTRADA LIVRE

A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES
Vertigo


Realizador: Alfred Hitchcock
Música: Bernard Hermann
Com: James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore, Henry Jones, Raymond Bailey, Ellen Corby, Konstantin Shayne, Lee Patrick

Duração: 129 minutos, COR
Classificação: M/12
Género: Mistério/Thriller
País de Origem: EUA
Ano:1958


SINOPSE

“Após um acidente durante uma perseguição, que resulta na morte de um agente da polícia, o detective John Ferguson (Stewart) ganha um forte medo das alturas que o impossibilita de continuar a exercer as suas funções. No final da sua recuperação física, mas possivelmente longe da recuperação emocional, Ferguson é contactado por um amigo que não via há vários anos, Gavin Elster (Helmore), para seguir a sua esposa Madeleine (Novak), assolada por tendências suicidas e com fixação numa mulher que viveu no século passado. Adaptado de "D'Entre les Morts", escrito a pensar em Hitchcock por Pierre Boileau e Thomas Narcejac, autores de "Diabolic", que o realizador lamentou não ter podido adaptar.
Convém ser o mais vago possível na elaboração de uma sinopse de «Vertigo», num capítulo onde já o título português se pode considerar algo inconveniente. Exige-se que não se antecipem as revelações plantadas de acordo com a estrutura concebida por Hitchcock, numa das marcantes inovações apresentadas nesta obra, onde decide revelar à audiência toda a trama antes do personagem central, torturando-o até ao fim do filme, sob o nosso olhar de cumplicidade. Estreado em 1958 e não exibido, por questões legais, durante trinta anos, esta obra-prima voltou às salas em 1996 numa magnífica cópia restaurada.
O personagem de James Stewart é vítima do seu fascínio por uma mulher assombrada por um fantasma, e que pode ela mesma ser um fantasma. O seu amor cedo se transforma em obsessão, devido à acumulação de acontecimentos traumatizantes pelos quais não consegue deixar de sentir culpa, e que conduzem à procura desesperada por essa mulher que, à força, quer fabricar a partir de Judy Barton (Novak, novamente), numa divina sequência do mais simbólico erotismo, e que Hitchcock definiu como "striptease invertido", pois Ferguson aproxima-se da consumação dos seus desejos à medida que a veste e maquilha.
Sem dúvida mais próximo do "filme de fantasmas", iludindo com a inicial premissa de outro género cinematográfico, «Vertigo» brilha desde a fabulosa sequência do título de Saul Bass (falecido no ano do relançamento) sobre a penetrante música de Bernard Hermann, até ao último fotograma projectado. A sequência do sonho ou o plano com a câmara movendo-se 360º em redor do casal - fundindo dois cenários - e a arrojada utilização da cor, são elementos que dão uma força vital à atmosfera semi-surreal do filme.
À estrutura inovadora para a época, junta-se a concepção da técnica que nos permite partilhar a sensação de vertigem com 'Scottie', hoje vulgarmente usada - por vezes de forma gratuita e dispensável - em inúmeros filmes. O efeito do prolongamento vertiginoso do campo de visão obtém-se fazendo "zoom in" ou "out", contrariando essa direcção com o movimento da câmara. Para o movimento de "dolly out, zoom in" nas escadarias da missão, Hitchcock optou por utilizar uma maquette, uma vez que seria demasiado caro construir toda uma estrutura onde a câmara se pudesse movimentar.
Uma excelente oportunidade de rever um filme importantíssimo, verdadeiro marco cinematográfico, ou para o ver pela primeira vez numa cópia que lhe faz justiça. “
www.cinedie.com

A Mulher que Viveu Duas Vezes
Uma obsessão vertiginosa
Envolvido pela espiral da vertigem, o espectador é novamente, em A Mulher que Viveu Duas Vezes, o voyeur privilegiado, ao acompanhar o desespero de um homem apaixonado por uma mulher irreal. James Stewart e Kim Novak são os protagonistas de uma intriga psicológica e complexa, conduzida pelo olhar de Alfred Hitchcock.
Um thriller ou um romance obsessivo? Vertigo/A Mulher que Viveu Duas Vezes (1957) não se define facilmente. Hoje é considerado pela crítica e pelo público a “obra-prima absoluta” de Alfred Hitchcock, mas este complexo filme não foi recebido como tal na sua estreia, no final da década de 60, e Hitchcock ressentiu-se com o seu fracasso. Contudo, o tempo engrandeceu a história do ex-polícia que sofre de vertigens e se apaixona por um fantasma. O realizador Martin Scorsese testemunha-o quando, no documentário Obsessed with Vertigo (…), afirma que, “ao longo dos anos”, o filme exerce uma crescente atracção, “como se fosse um remoinho de obsessão”.
Baseado num romance dos escritores franceses Boileau e Narcejac, o 45.º filme de Alfred Hitchcock intitulava-se, inicialmente, From Amongst the Dead, tradução literal do título do livro. No entanto, a Paramount recusou o título e, assim, surgiu Vertigo, ou seja, “vertigem”, que o dicionário apresenta como sinónimo de “uma sensação de tontura… sentir a cabeça a nadar… no sentido figurativo, um estado em que tudo parece ser engolido por um remoinho de terror”. Mas como traduzir este estado mental e psicológico para o grande ecrã? A resposta do realizador foi uma técnica inovadora que combina zooms para a frente e travellings para trás e permite ao espectador experienciar a angústia da vertigem, ao distorcer a imagem da realidade.
A espiral da vertigem envolve o público desde os primeiros segundos do filme, devido ao genérico abstracto de Saul Bass e à música inspirada em Wagner e Mozart do compositor Bernard Hermann. E é reforçada continuamente pelas imagens do filme, como o caracol no penteado de Madeleine/Carlotta ou as formas circulares no tronco da árvore centenária. Em simultâneo, a intriga constrói uma espiral do tempo, na qual a enigmática Madeleine (Kim Novak) parece mergulhar, arrastando Scottie (James Stewart) atrás de si.
A Mulher que Viveu Duas Vezes foi o quarto e último filme em que Hitchcock e James Stewart colaboraram. Nele, Stewart transforma-se em John Scottie Ferguson, um ex-polícia que é confrontado com uma fobia incurável (o medo das alturas) e, quase ao mesmo tempo, se apaixona perdidamente por uma mulher. Mas essa paixão revela-se impossível (a amada morre) e torna-se numa obsessão necrófila.
“James Stewart estava apaixonado por um sonho, por uma mulher que nunca existiu”, explicou Kim Novak, numa entrevista em 1981. Referia-se a Madeleine, a personagem que interpreta e que é um reflexo de um fantasma, Carlotta Valdes, cujo destino fatídico parece repetir-se na vida da sua descendente. Quando Madeleine desaparece, Novak reaparece como Judy, uma mulher menos irreal e cativante. Contudo, quando Scottie a vê, percebe de imediato a semelhança de ambas e não resiste à tentação de transformá-la em Madeleine, tal como o próprio Hitchcock fazia com as suas actrizes belas e loiras.
Na verdade, Kim Novak não foi a primeira escolha do realizador para interpretar a dupla Madeleine/Judy. O papel foi pensado para outra loira, Vera Miles, que Hitchcock queria tornar célebre graças a este filme, mas a actriz engravidou e não pôde integrar o elenco. Novak surgiu como alternativa mas o seu trabalho não agradou completamente ao realizador, para quem a actriz tinha demasiadas ideias fixas. Por isso, divertiu-se com o facto de atirá-la várias vezes à água enquanto filmava a cena da tentativa de afogamento.
A Mulher que Viveu Duas Vezes encontra-se no limiar entre o real e o universo onírico. Daí que a luminosidade desempenhe, paralelamente às imagens criadas por Bass e à música composta por Hermann, uma função crucial no filme – quando a imagem fica escura ou desfocada, os personagens são envolvidos pelo passado e pelos seus fantasmas. Esta técnica prende o espectador, mais uma vez voyeur, à intriga e permite a identificação com os sentimentos do protagonista. E o que começa como um thriller psicológico, termina como uma trágica história de amor.

Ana Filipa Gaspar
“Toda a gente que admira A Mulher que Viveu Duas Vezes gosta de Kim Novak nesse filme. Não se vê todos os dias uma estrela americana tão carnal na tela. Quando a voltamos a encontrar na rua, no papel de Judy (…), tem um efeito muito animal devido à maquilhagem e talvez também porque debaixo da sua camisola de malha não usa soutien.”
François Truffaut, realizador e argumentista”
- http://static.publico.clix.pt/coleccoes/hitchcock/03_mulher.asp




Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura

Apoio: A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural

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Próxima sessão, dia 10 Outubro 08: Má Educação, de Pedro Almodovar

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