segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cinemascópio: Ciclo Câmara Welles: Perspectiva do Mundo - Próxima 6ªf, 12 Setembro: O Quarto Mandamento, de Orson Welles


Cinemascópio - Ciclos de Cinema Temáticos
Ciclo Câmara Welles: Perspectiva do Mundo

SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 12 SETEMBRO.2008 - 21H45

A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural
Rua de Morgado de Mateus, nº41
4000-334 Porto
(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)
ENTRADA LIVRE

O Quarto Mandamento
The Magnificent Ambersons

Realizador: Orson Welles
Argumento: Orson Welles, a partir do romance de Booth Tarkington
Fotografia: Stanley Cortez
Música: Bernard Herrmann



Com:
Joseph Cotten – Eugene Morgan
Dolores Costello – Isabel Amberson
Tim Holt – George Amberson
Agnes Moorehead – Fanny Amberson

Duração: 88 minutos, PB
Classificação: M/12
Género: Drama
País de Origem: EUA
Ano: 1942

SINOPSE
"Quem teve a audácia de apresentar um filme tão radicalmente contrário ao studio system como foi “O Mundo a Seus Pés”, teria, certamente, problemas com o filme seguinte. E que dificuldades Orson Welles encontrou para acabar “O Quarto Mandamento/The Magnificent Ambersons”, mais uma extraordinária proposta da colecção Clássicos-Público.
O local é o Midwest americano, em plena viragem de século. Os Ambersons são uma das mais respeitadas famílias locais. Têm pergaminhos, dinheiro velho e uma rapariga, Isabel, ansiosa por casar. O seu escolhido é Eugene (Joseph Cotten) que, num momento menos bom, acaba por fazer uma figura ridícula, levando a que a sua amada o troque por outro. Anos depois, Eugene volta como um viúvo mas próspero e rico inventor, ligado ao ramo automóvel. Consigo traz Lucy, sua filha, que se apaixona perdidamente por George, filho de Isabel que, entretanto, também enviúva. Só que George impede a união entre Eugene e a mãe…
O filme divide-se, claramente, em três partes. A inicial, em que conhecemos a família na sua fabulosa mansão e no auge do seu poder; depois, o declínio; e, na terceira e última parte, a redenção de George, o herdeiro da família. Ao longo da fita, torna-se óbvio que o que está em causa é um choque social profundo. É que não se trata apenas do clássico “dinheiro velho” versus “novo rico”, mas algo mais intenso: a diferença entre uma sociedade/família apegada ao passado/sec.XIX e, uma outra, que já abraçou os valores contemporâneos/sec.XX. Nem de propósito, o elemento de transição, a chave para a nova fortuna, é um objecto que implica mudança e movimento: o automóvel, símbolo do novo século. Por outro lado, a enorme escadaria entre o rés-do-chão e o primeiro andar da mansão é outra metáfora sobre os desníveis sociais.
Quando terminou as filmagens, Orson Welles tinha um filme com 131 minutos. Mas teve que ir à América do Sul fazer um documentário para acompanhar o ‘esforço de guerra’. Resultado: após um screen test, a RKO cortou para… 88 minutos. Muito do mito de Welles nasceu aqui. Há quem diga que a versão final era extraordinária e que, algures, ainda está guardada a versão longa… Mas não foi só isso. O realizador abusou nos cenários, abusou da paciência dos produtores e da firma e os conflitos rebentaram. E, se já tinha fama de ser um tanto selvagem, o final da produção deste filme só ajudou à fama…
Apesar de tudo, a visão e o virtuosismo de Welles marcam presença indelével: os planos, originais à época, o uso inteligente dos contrastes de luz, a opção por um cenário para toda a casa e não de um set para cada sala da mansão são exemplos claros da marca do visionário que Orson Welles era em 1942.
As interpretações estão a cargo de actores vindos dos tempos em que o realizador estava no “Mercury Theater Rádio”, incluindo Joseph Cotten. Não há, por isso, estrelas de primeira grandeza. Mas as interpretações são de primeira água, com destaque para Cotten, mas, também, Tim Holt como ‘George’ e Dolores Costello como ‘Isabel’. O filme foi candidato a quatro Óscares e permanece, ainda hoje, um clássico. "
http://ovilacondense.blogspot.com
O QUARTO MANDAMENTO

“De que maneira o excesso de mimo concedido a uma criança – menino estragado pelo puro e verdadeiro desvelo de uma mãe (demasiado?) amante – pode marcar o destino de toda uma família? O segundo filme do jovem Orson Welles, figura celebrizada por uma emissão de rádio-ficção alusiva à invasão do planeta por extra-terrestres e por uma primeira obra bafejada pela fama, parece ser um segundo ensaio sobre um tema que era já chave do celebrado MUNDO A SEUS PÉS, a saber: os factos da infância como grades de prisão futura da nossa conduta ética e da nossa vivência estética. Por outras palavras, tanto Charles Foster Kane (protagonista do primeiro filme) como George Minafer Amberson (protagonista do segundo), ambos personagens poderosas – tanto no sentido de exercerem o poder como no sentido de, embora odiosos, possuirem um grande poder de atracção – crescem agarrados à estaca de uma primeira imagem e dificilmente conseguem enxertar-se noutros troncos, mais robustos ou mais ágeis.
Entre o pico da arrogância dos Amberson e o pico da sua decadência, ergue-se uma cidade e contrói-se uma nova sociedade. Se lermos a história dos esplendorosos Amberson como antífrase da prosperidade da América, importa sublinhar que os próprios artífices dessa prosperidade – neste caso, o bem sucedido inventor e fabricante de automóveis, desempenhado por Joseph Cotten – estão conscientes dos seus perigos e temem genuinamente a mudança para a qual trabalham (como se percebe na cena da altercação entre o filho mimado e o velho namorado de Isabel), porventura ao contrário do que acontecia com os antigos senhores da terra, que reinavam sobre os seus conterrâneos como se a superioridade de classe fosse de pedra e cal. São talvez as próprias dúvidas de Welles quanto ao progresso que se plasmam na atitude da sua personagem, ele que viveu a vida inteira dividido entre a antiga arte do teatro, herdada do Velho Mundo, e a nova arte do cinema, instrumento de dominação cuja força contribuirá para a hegemonia do Novo Mundo.
Mas O QUARTO MANDAMENTO pode ser lido de mil e uma outras maneiras: experiência radical sobre as possibilidades expressivas da cenografia de estúdio; experimentação sem precedentes da conjugação entre ópticas arrojadas e uma fotografia altamente contrastada; discurso sobre o poder de significação das estruturas arquitectónicas e dos objectos que as mobilam, em difícil contracena com os seus utentes os quais mais parecem fantasmas histéricos do que humanos; inolvidável galeria de retratos de personagens que não são capazes de deixar de amar-se e contudo mais não fazem do que magoar-se e destruir-se umas às outras.
Welles começou como contador de histórias e jamais deixou de assumir-se como tal. Que grande falta nos fazem os seres como ele que têm esse dom de nos colar à cadeira, mesmo quando nos julgamos demasiado ocupados ou preocupados para emprestar uma orelha à temperatura duma voz, ao pulsar da língua, ao sopro de sentidos que as palavras contêm?”
www.serralves.pt



Uma iniciativa: Pintar o 7 - Cinema, Cidade, Cultura

Apoio: A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural

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Próxima sessão, dia 19 Setembro 08: Macbeth, de Orson Welles



www.acadeiradevangogh.blogspot.com

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