terça-feira, 1 de abril de 2008

Obscenidade

São sempre as imortais palavras de Marlon Brando, na pele do misterioso Coronel Kurtz, que me lembro quando se fala de guerra. Isto a propósito da efeméride recente da Guerra no Iraque.

Mais do que qualquer dissertação sobre a barbárie que é a guerra, e o retrocesso civilizacional que ela significa, deixo a palavra aqui a dois autores que muito aprecio com posições antagónicas sobre o assunto: Pacheco Pereira (aqui e aqui) e Daniel Oliveira (aqui) escrevem sobre os últimos cinco anos deste terrível conflito.

E ultrapassando todos os conceitos morais fica a arrepiante frieza dos números:
  • 150 mil a 600 mil mortos iraquianos (600 mil segundo o director do Centro de Resposta a Refugiados e Desastres da Escola de Saúde Pública eresponsável pelo inquérito publicado na Lancet, Johns Hopkins);
  • 3 987 soldados americanos mortos no Iraque;
  • 4 295 soldados mortos no Iraque (1724 mortos com bombas de berma de estrada);
  • 196 mil contractors no Iraque e no Afeganistão;
  • 5,1 milhões (em 27 milhões) de iraquianos deslocados. Apenas 20% recebe alguma ajuda de agências da ONU ou de ONG;
  • 2,7 milhões de deslocados no Iraque;
  • 1,2 milhão de refugiados na Síria;
  • 500 a 600 mil de refugiados na Jordânia;
  • 43% dos iraquianos vivem com menos de um dólar por dia;
  • 12 horas de electricidade por dia na capital de um dos maiores produtores de petróleo do Mundo;
  • Um litro de gasolina custa 350 dinares (há dois anos custava 20 dinares);
  • 25% a 40% de taxa de desemprego;
  • Custos directos e indirectos de 3 milhões de milhões de dólares para os EUA (segundo Joseph Stiglitz, Nobel da Economia em 2001);
  • Armas de destruição em massa descobertas: 0

"We train young men to drop fire on people. But their commanders won't allow them to write "fuck" on their aeroplane because it's obscene"

2 comentários:

Melindawaits disse...

Não esqueço as manifestações feitas por tudo o Mundo contra a guerra no Iraque. Não se tratou de meia dúzia de pessoas mas sim de grandes manifestações de vontade de pessoas de quadrantes políticos diversos, para as quais nenhum país soberano e independente tinha o direito de invadir e impor-se a qualquer outro país soberano e independente,pese embora todas as mentiras e que se sabiam ser mentiras advogadas por aqueles que ratificaram a invasão,tais como Bush e afins.
Não gosto de Pacheco Pereira e acho patético o seu artigo. Até a mentira pode ser mais ou menos mentira consoante convém!!.("A Administração Bush actuou como deve actuar um governo responsável que acha que está em guerra - pela Lei de Murphy, se uma coisa pode correr mal, mais vale prepararmo-nos para que corra mal. Onde errou foi em deixar centrar a sua argumentação nas armas, o que resultou das pressões de Colin Powell e do Departamento de Estado para obter uma resolução das Nações Unidas, e que levou à apresentação de "provas" que vieram a revelar-se inconsistentes ou falsas. A Administração Bush fê-lo porque não tinha nada de melhor a apresentar, não porque não estivesse convencida de que as armas não existissem. As provas materiais que possuíam eram débeis, equívocas e nalguns casos falsas, embora saber quem as "plantou" nos serviços de informação seja toda uma outra história. Sim, algumas "provas" eram "mentira", mas a convicção de que havia armas de destruição maciça não era mentira")sic).Para além dos números que falam por si, são, ainda, arrepiantes as notícias que todos os dias nos chegam do Iraque: as mortes e destruição, a constante da guerra! E ironia das ironias feita em nome da Liberdade e Libertação de um Povo,por Estados ditos de direito e democráticos"! Seria de gargalhar não fosse o horror vivido no dia a dia pelo povo iraquiano, sabe-se lá até quando.

Nuno disse...

Ena Ermelinda, obrigado pela tua contribuição :)

Subscrevo tudo aquilo que disseste. Deixei os artigos do Pacheco porque acho sempre interessante ver o outro lado da questão. Não concordo com ele. Gosto de o ler, e percebo a argumentação dele, embora pense que ele vá longe demais na argumentação. Porque, sendo como ele diz, é o "vale tudo". Estamos em guerra, estamos em guerra. E regressamos à Idade Média.

Deixo-te este link de outro autor que já apreciei mais. Mas ele aqui está muito bem na resposta ao Pacheco

http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?sid=ex.sections/23491