terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cinemascópio: Ciclo Do Amor, da Guerra e Outros Demónios - Próxima 6ªf, 21 Novembro: Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood


Cinemascópio - Ciclos de Cinema Temáticos

Ciclo Do Amor, da Guerra e Outros Demónios


SESSÃO DE SEXTA-FEIRA 21 NOVEMBRO.2008 - 21H45



A Cadeira de Van Gogh - Associação Cultural

Rua de Morgado de Mateus, nº41

4000-334 Porto

(TOQUEM À CAMPAINHA, PF)

ENTRADA LIVRE



Cartas de Iwo Jima

Letters from Iwo Jima


Realizador: Clint Eastwood

Com: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Tsuyoshi Ihara, Ryo Kase
Shido Nakamura, Hiroshi Watanabe, Takumi Bando, Yuki Matsuzaki, Takashi Yamaguchi, Eijiro Ozaki

Duração:
140 minutos, COR

Classificação: M/16

Género: Drama, Guerra, História

País de Origem: EUA

Ano:2006



SINOPSE

" Lado B do díptico de Clint Eastwood sobre a batalha de Iwo Jima. Enquanto "As Bandeiras dos Nossos Pais" partia da icónica imagem em que cinco "marines" erguem a bandeira dos EUA no Monte Suribachi, "As Cartas de Iwo Jima" mergulha no lado dos soldados japoneses. Décadas depois da batalha, são desenterradas no local várias centenas de cartas que revelam facetas desconhecidas dos soldados que aí perderam a vida. Os japoneses estavam cientes que dificilmente sobreviveriam à batalha. Entre eles estavam Saigo, um padeiro que só queria conhecer a filha recém-nascida; um campeão Olímpico de hipismo conhecido em todo o mundo; um jovem ex-agente da Polícia Militar a quem a guerra ainda não roubou os ideais; e o tenente Ito, um militar que preferiria o suicídio à rendição. A liderá-los, o general Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe) - as suas viagens pela América revelaram-lhe o quão vã é a guerra, mas também lhe deram a visão estratégica necessária para enfrentar a armada americana. Com poucos meios e poucos soldados, mas uma vontade indómita de vencer, o general tira partido das particularidades da ilha e consegue transformar aquilo que se previa como uma derrota rápida num combate heróico. Em Iwo Jima morreram quase sete mil soldados americanos e mais de 20 mil japoneses. Eastwood sentiu que a única forma de homenagear todos os que perderam a vida seria realizar dois filmes, pois um seria contar apenas metade da história."

http://cinecartaz.publico.clix.pt/filme.asp?id=167065

"Cartas de Iwo Jima
A ilha dos mortos



Engana-se quem pensar que "Cartas de Iwo Jima" é mero contraponto "democrático" para "As Bandeiras dos Nossos Pais", para oferecer, diplomaticamente, o olhar do lado japonês sobre a tomada de Iwo Jima. Muito mais do que isso, é um filme que se autonomiza do seu par, e que sem deixar de dialogar com ele tem identidade própria - não é também redutível a um "lado B", antes formando os dois filmes aquilo a que, para manter a metáfora discográfica, se chamava, antes da idade do "download" às fatias, um "album conceptual".

"Dialogar", escrevemos. Dialogam os dois filmes? Ou não será que a possibilidade de um diálogo, entre a perspectiva americana e a perspectiva japonesa, não se constitui ela própria enquanto interrogação fundamental em "Cartas de Iwo Jima"?

Se bem vimos, Eastwood repete um plano, e apenas um, em "As Bandeiras dos Nossos Pais" e em "Cartas de Iwo Jima". Justamente o plano do "primeiro fogo": o ponto de vista de um bunker japonês quando as metralhadoras começam a disparar sobre a praia entretanto repleta de soldados americanos. De certa maneira, muito palpável, esse plano é a única sobreposição dos dois filmes, a espécie de "túnel" que organicamente os liga, para lá da "parceria temática". Como expressão de um diálogo entre partes, não poderia ser mais desesperado: no campo de batalha só se ouve a voz da metralha (passe a involuntária rima), e em "Cartas de Iwo Jima" nada concilia o inconciliável.

O estatuto antagónico sobrepõe-se à humanidade, esvaziando-a - e esta ideia, eastwoodiana, é a mais forte do filme, sendo até ampliada pelos elementos narrativos que esboçam uma aproximação, sejam a estima e simpatia pela América evidenciadas por duas das personagens (uma delas, o general Kuribayashi, interpretado por Ken Watanabe), seja pelos episódios, algo especulares, com o soldado americano ferido e, depois, com os soldados japoneses que se rendem, ou ainda mais tarde e já em termos puramente simbólicos, com o apontamento do "colt" e do sabre.

"Questões culturais", sendo assim? Também: enquanto "As Bandeiras..." fazia uma crítica do conceito de "heroísmo" na América, "Cartas de Iwo Jima" passa em revista o conceito do herói japonês, sacrificial e "kamikaze". Fá-lo de maneira "interior", através do homem (Kuribayashi) entre todos mais capaz de reconhecer a ténue linha que separa uma morte com honra do puro absurdo, mas também a partir dos olhos dessa personagem (o jovem soldado Saigo) omnipresente, e atónita testemunha: é pelos olhos de Saigo que vemos a mais alucinante cena do filme, a do grupo de soldados e oficiais japoneses que se fazem explodir quando a derrota se lhes afigura certa.

A questão é que a derrota é certa ainda antes do primeiro tiro. O que é decisivo no tom crepuscular de "Cartas de Iwo Jima" é essa consciência da inevitabilidade da derrota.

Independentemente do rigor e da inteligência da sua perspectiva histórica e cultural, o que decide a excepcionalidade do filme é o facto de ele se assumir como crónica poética, grave e respeitosa do fim de um mundo de que os protagonistas fizeram parte a ponto de o fim desse mundo se confundir com o fim das suas vidas. É por aí que entra o mais impressionante cometimento de "Cartas de Iwo Jima": a sua estrutura narrativa, ao mesmo tempo livre e condicionada, como se reflectisse a miríade de corredores subterrâneos por onde circulam os soldados japoneses, flutuando de personagem para personagem num ritmo que suspende a própria acção - como se deixasse de ser uma estrutura narrativa para passar a ser um mecanismo contemplativo, a expressão de uma espera. Os "flashbacks" que dão a ver as vidas passadas das personagens não são, por isso, "flashbacks": antes "buracos" no tempo, mergulhos nas memórias de cada um, "túneis" para as suas biografias, ligações entre a vida e a morte. Andamos (todos) há imenso tempo a dizer que Clint Eastwood é o "último clássico" mas isso é cada vez mais só uma parte da história. Os "flashbacks" deste filme devem pouco a qualquer classicismo, e durante o visionamento ocorrem-nos mais vezes os nomes de gente como o francês Alain Resnais ou o russo Alexander Sokurov do que o de qualquer cineasta clássico.

"Cartas de Iwo Jima" abre com um plano da ilha na actualidade - o monte Suribachi com a sua configuração vulcânica. Quando, no fim, os soldados podem sair dos seus subterrâneos, toda a ilha parece que mudou de cor, e que é feita de uma cinza acastanhada, mistura de sangue e lava.

Andamos com zombies nesta ilha dos mortos. Isto é um dos maiores filmes de Clint Eastwood e compensa largamente a ligeira decepção deixada pelo anterior "Bandeiras dos Nossos Pais"."



16-2-2007 Por: Luís Miguel Oliveira (PÚBLICO)

http://cinecartaz.publico.clix.pt/criticas.asp?id=167065&Crid=1&c=4074







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